sábado, 14 de dezembro de 2013

Tempo Valioso...

Tanto faz se é cereja ou jabuticaba; se já foi reproduzido mil vezes na rede; se o autor é Ricardo Gondim, Rubem Alves, Mário de Andrade ou – o que me parece mais provável – seu xará angolano, Mário Coelho Pinto de Andrade, poeta e escritor.

O fato é que o texto O Valioso Tempo dos Maduros me diz muito, e quanto mais cedo começarmos a “roer o caroço”, mais sorveremos da vida o essencial. No final desse post reproduzo uma das versões que circulam pela internet.

Dia desses, eu estava numa festa bem divertida. Aliás, surpreendentemente divertida.

Mas eis que o telefone tocou uma vez, tocou duas, três, e era sempre trabalho, abacaxis a descascar, o que, aliás, tem sido uma constante de uns tempos pra cá.

A barulheira me empurrou pra longe da diversão. Depois de dar os devidos encaminhamentos aos ananás (que dizem ser mais ácidos que os abacaxis), sentei numa sombra e ali permaneci sozinho por um bom tempo, exaurido, sem disposição para voltar à comemoração.

Acho que passou-se mais ou menos uma hora. Eu, sozinho, a divagar como a vida estava difícil, e como eu certamente contribuíra para isso, no mínimo pela minha baixa resiliência, por não transigir de alguns valores que considero inegociáveis ou, quem sabe, por incompetência mesmo.

Quando a festa caminhava para o fim e aquele monte de gente começava a dispersar, alguém chegou e sentou ao meu lado. Depois mais um, e outro, e mais outro. Não sei exatamente o que motivou aquele movimento: amizade, pena, curiosidade, o lugar agradável... O mais provável é que não tenha havido motivo nenhum. 

De repente, éramos uns oito ou dez, e aquela turma conseguiu levantar meu astral. Como o local precisava fechar, terminamos o dia num barzinho, tomei umas e outras e mais algumas - o que há muito não fazia - e voltei pra casa refletindo: num mundo onde sua história de vida não vale muita coisa, onde as pessoas relativizam conceitos básicos como respeito, ética, seriedade, bom senso e discernimento sobre o que é certo e o que é errado, aquele gesto gratuito e descompromissado de solidariedade representou muito pra mim. 

Aquele tempo “perdido” foi, pra mim, o tempo valioso citado no texto a seguir:

“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.

Tenho muito mais passado do que futuro.

Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de jabuticabas.

As primeiras, ele chupou displicentemente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que, apesar da idade cronológica, são imaturas.

Detesto fazer acareação de desafetos que brigam pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.

As pessoas não debatem conteúdos, apenas rótulos.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos. Quero a essência. Minha alma tem pressa.

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade; caminhar perto de coisas e pessoas de verdade.

O essencial faz a vida valer a pena.

E para mim, basta o essencial.”


sábado, 21 de setembro de 2013

Desafios da TI


Após a apresentação de uma softwarehouse, fui indagado sobre o que tinha achado do seu produto. Parecia muito bom (embora no Power Point tudo funcione, ainda mais se apresentado por um vendedor), mas refleti um pouco antes de responder. 
Minha conclusão foi: se eu fosse um bilionário russo daqueles que acordam e resolvem comprar um time de futebol e fundar um banco, o produto cairia como uma luva.
No entanto, para o ambiente tecnológico do meu Banco, pelo seu tamanho, complexidade, centenas de sistemas interligados, diversas plataformas, não seria um bom negócio. E ainda tem o processo. Ah, o processo...
Já falei sobre o assunto anteriormente, mas se vamos comprar um produto que implemente uma commodity, algo já maduro no mercado, precisamos ponderar se vamos incorporar também o processo, o que normalmente é uma boa idéia, mas nem sempre. Caso positivo, mesmo assim, sempre se faz necessário algum tipo de integração com o legado.
Mas se, por algum motivo - que muitas vezes está relacionado à cultura da organização ou a processos inter-relacionados - pretendermos manter do mesmo jeito o que já vínhamos fazendo, é possível que a solução requeira tantas customizações que acabe não valendo à pena sua aquisição.
Uma outra constatação: quanto mais maduro é o ambiente de TI de uma empresa – o que certamente é o caso dos grandes instituições financeiras do Brasil – mais complexa pode ser a integração. Afinal, bases corporativas, desacoplamento, não-redundância e outros conceitos tornam mais robusto e seguro o ambiente, mas por vezes podem ser um overhead no momento de conectá-lo a novas soluções.
Essa problemática faz com que o esforço de desenvolvimento “nativo” - pelo insourcing ou pelo outsourcing – das empresas seja sempre volumoso e pesado. Mas precisamos perseguir obstinadamente as melhores alternativas, que geralmente são também as mais simples, de forma a não tornar a TI algo inadministrável.
Hoje, a Tecnologia é reconhecida por todas as grandes corporações como apoiadora e mesmo alavancadora de soluções de negócio, mas a cada dia surgem novos desafios a serem superados.
A preocupação com eficiência operacional, com a priorização de demandas, com os processos (que não devem ser um fim em si mesmo, e sim viabilizadores das nossas entregas) e com a gestão do conhecimento, deve ser constante.
Acredito que teremos avançado mais um degrau de maturidade quando nossos produtos de TI tiverem um certo padrão, independente de sua origem, seja make by desenvolvimento interno, make by terceiros ou simplesmente buy. 
No Banco do Brasil, especificamente, o desenvolvimento interno, fundamentalmente, é o que nos fez chegar até aqui. A força e competência do nosso pessoal, o maior patrimônio da Ditec, foi e sempre será imprescindível. O outsourcing também é importante, no banco e em todas as demais organizações, essencialmente para que possamos gerir nossos vales e picos de demandas (quase sempre picos).
Costumo dizer que a maior qualidade do ser humano é a capacidade de reconhecer suas deficiências, pois somente a partir daí conseguimos atuar para superá-las.
Acredito que isso funcione também com as organizações, para conseguir superar seus imensos desafios.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Nau Sem Rumo

Há algum tempo estou para escrever sobre o momento delicado que o país atravessa, sacudido por manifestações populares, com uma lista quase interminável de reivindicações.
De tanto demorar, o assunto caducou, até porque já se falou demais sobre isso, sob todas as óticas possíveis.

Mas, esses dias, conversando com um grande amigo e sobrinho, acerca da questão dos médicos cubanos, o assunto me voltou à mente, sob algumas perspectivas diferentes.

A primeira é que percebi claramente que a minha procrastinação estava relacionada a uma questão física: sempre que eu pensava no tema, ele sugava todas as minhas energias, pois de forma meio subliminar – mas agora muito claramente – de alguma forma eu percebia estarmos diante de vários problemas praticamente sem solução.

Comecemos pela questão da saúde. Esse meu querido sobrinho é um jovem médico, vibrante, engajado, extremamente esclarecido, que já sofreu na pele todo o contexto da penúria da saúde pública no Brasil.

Pedi sua opinião sobre a proposta do governo em relação aos médicos estrangeiros. Ele me contextualizou e, coerente como é, me passou alguns links com outras opiniões, tanto da sua área quanto de outros segmentos da sociedade.

Bem, sem me aprofundar na proposta em si, até porque já se falou disso além da conta, a questão é: digamos que o governo reformulasse sua pauta, exigindo dos médicos estrangeiros a validação de seus diplomas segundo o CFM (Conselho Federal de Medicina), definisse uma carreira para profissionais da área no setor público (por que um médico trabalha com contratos temporários e ou mesmo verbais com o prefeito? Um juiz ou um promotor faz o mesmo? Qual a diferença fundamental entre os dois?), destinasse mais verbas para a saúde, determinasse a construção de novos hospitais, compra de remédios, etc, etc, minha opinião é: NÃO FUNCIONARIA. TUDO CONTINUARIA NA MESMA, OU PIOR.

Apenas para jogar lenha na fogueira (O Ronaldo já misturou os assuntos e deu no que deu...), o problema dos estádios da copa, foi dinheiro de menos? Ou dinheiro demais?

Porque a questão fundamental é: não temos gestão, seriedade de propósitos, continuidade. Nossas instituições estão corrompidas de uma forma muito mais profunda do que imaginamos. E por mais que ocorram algumas boas iniciativas aqui e lá, estas geralmente ocorrem por espasmos.

Uma das piores atitudes do governo tão logo o povo foi às ruas exigir seus R$ 0,20 de volta, foi ir à TV e revogar incondicional e linearmente todos os aumentos de passagens, dando uma demonstração, ao mesmo tempo, de fraqueza, submissão, falta de planejamento e administração por espasmo.

O que poderia ter feito? Se houve alguma lógica na atribuição do aumento, um ou outro poderia ter sido revertido, outro revisto para R$ 0,10, sei lá, e outros mantidos, com as devidas justificativas. Mas não. Da forma que foi feito, a percepção é que ele realmente foi desnecessário. Será que algum dia a população aceitará pacificamente qualquer aumento no preço da gasolina?

Na década de 1980, bancário no interior de Pernambuco, percebi que a população da pequena cidade onde eu trabalhava aceitava sem questionamento os desmandos do grupo dominante. E, mais que isso, entendia como lícita a apropriação do FPM (Fundo de Participação dos Municípios) e do patrimônio público em geral por parte do prefeito. Quando a situação chega a esse nível, fica difícil mudar alguma coisa.

Não conheço tantos países assim, mas creio que a grande maioria tem sua parcela de políticos corruptos. No entanto, aceitar, como no Brasil, a perpetuação de figuras reconhecidamente inescrupulosas em cargos-chave dos poderes, notadamente no legislativo, é uma afronta à sociedade.

Além disso, uma grande, imensa parcela da população que marcha contra a corrupção, é contra apenas a corrupção alheia. Que o digam as suas atitudes do cotidiano.

Voltando à questão das manifestações: as atitudes coletivas são importantíssimas, fundamentais, aliás. Mas a postura individual e, mais que isso, a “ralação” do dia-a-dia é que pode resolver alguma coisa. Uma amiga, professora universitária, contou o seguinte diálogo que teve com o filho, de 23 anos:
- Mãe, tô indo pra manifestação na praça!
- A favor de que?
- Não sei bem, mas precisamos mudar o Brasil.
- Quer mudar o Brasil? Arranje um emprego, trabalhe duro, ajude quem precisa. Faça a sua parte. Se sobrar tempo, vá às manifestações, sabendo, pelo menos, do que se trata.

É por aí.

De qualquer forma, se nem no ponto de partida consegue-se alguma coerência, fica difícil imaginar algum avanço. Voltando à delicada questão da saúde:a comunidade médica não foi ouvida, o serviço obrigatório no SUS cheira a trabalho escravo, o estudante de medicina, já tão sobrecarregado, precisará de pelo menos uma década pra se preparar para o mercado. Nada contra, se outras categorias mais privilegiadas não tivessem que trabalhar tão pouco, como aquela leva que zarpa de Brasília às quintas-feiras.

O país assemelha-se a uma nau sem rumo, chegando a uma perigosa encruzilhada.

sábado, 25 de maio de 2013

Sobre Sacos e Tapetes...

Sacos e tapetes não foram feitos para serem puxados. Mas isso tem sido cada vez mais frequente no mundo corporativo. E uma puxada invariavelmente vem acompanhada da outra.

Obviamente isso sempre houve, e sempre haverá. No entanto, as organizações devem se blindar contra esse tipo de prática que, devagar, mas de maneira devastadora e quase irreversível, destrói a autoestima, a motivação, o sentimento de justiça e o vínculo entre CPF e CNPJ, contaminando a todos, exceto uma pequena minoria beneficiada.

Muitas vezes, o excesso de problemas faz com que o administrador, até sem perceber, busque se cercar daqueles que só lhe trazem boas notícias, mesmo que lá fora o mundo esteja desmoronando. É a confirmação daquele antigo ditado, “a ignorância é o segredo da felicidade”.

Na realidade temos dois tipos de otimistas. Aquele que desconhece o problema e um outro, ainda pior: que o mascara, de forma a mostrar um mundo cor-de-rosa para o chefe. Esses dois tipos são tão ou mais danosos para a organização quanto o seu oposto: o “nuvem-negra”, aquele que só vê o lado negativo, que só aponta problemas (problemas, aliás, que sempre estão no outro, nunca nele próprio).

Os três, na prática, nada fazem de útil para a empresa, mas o segundo é maquiavélico, está sempre conspirando. Em grupos de trabalho, frequentemente exalta a participação daquele cara inexpressivo, que não constitui uma ameaça à sua busca incessante de autopromoção.

Qual seria a postura ideal? A resposta é óbvia, embora muitos prefiram não querer enxergar. Não esconda os problemas. Exponha-os, mas também aponte a solução. E seja parte dela! O que mais se vê por aí é: “Eu estou fazendo o meu, já fulano...”

Cada vez mais, o corre-corre, o foco no curto prazo, na entrega, no operacional, ou mesmo aspectos externos, políticos, ou ainda por pura e simples miopia, tem feito com que a alta cúpula das organizações negligencie a sucessão de seus líderes.

E abra mão de algo fundamental: o pensar e o agir estratégico.   

Mais tarde a empresa paga a conta. E caro.                    

sábado, 27 de abril de 2013

2014 – Uma nova Blikkiesdorp ?


Barracões de zinco: condições de vida sub-humanas na periferia de Cape Town

Há três anos, em meio à festa da primeira Copa do Mundo em continente africano, o rumoroso episódio da Blikkiesdorp – “cidade de lata”, em africâner - manchou a imagem da África do Sul e da organização do evento.

O autointitulado “governo de integração”, formado em grande parte por aqueles que ajudaram a acabar com o apartheid racial - oficialmente extinto na década de 1990 – implementou uma nova forma de segregação, agora social, com um único objetivo: esconder do mundo a pobreza de uma das sedes da copa.

A população “indesejável” de Cape Town (Cidade do Cabo) – moradores de rua, imigrantes pobres, portadores do vírus HIV – foi confinada num assentamento localizado a 20 km da metrópole, formado por milhares de barracos de zinco, que potencializavam o frio no inverno e o calor no verão.

A Cidade de Lata foi construída em 2008, como uma situação transitória para abrigar invasores de prédios públicos.
Até 2010, pelo menos havia uma certa segurança. O local era totalmente cercado por arame farpado e seu único acesso era rigidamente controlado por policiais.

A Copa do Mundo foi um sucesso! Como se sabe, o Brasil voltou pra casa mais cedo, graças a Dunga, Felipe Melo & cia, mas a Espanha, comandada por Xavi e Iniesta, deu show e foi a grande campeã.

A Fifa e alguns figurões encheram os bolsos, o tempo passou e, como era de se esperar, promessas foram esquecidas. A Blikkiesdorp está completando cinco anos, se tornou uma favela perigosíssima, e seus moradores engordam uma lista do governo para receber casas de verdade, numa espera que deve levar décadas.

No Brasil, vários estádios belíssimos são circundados por favelas, o que certamente não passa uma boa imagem para o resto do mundo. Será que teremos uma reedição de Blikkiesdorp por aqui?

Castelão: primeiro estádio brasileiro pronto para a copa, localizado em um bairro paupérrimo de Fortaleza.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A Papisa


No mundo corporativo, quando algo precisa de uma alçada muito alta de decisão, não é raro o uso da expressão “precisamos da assinatura de dois papas vivos”. Pois bem. Nos últimos dias, a assinatura de um único Papa já não é algo muito fácil de se obter.

A renúncia do Papa Bento XVI pegou muita gente de surpresa, pois há séculos – desde Gregório XII, em 1.415 – isso não ocorria na Igreja. Cogitou-se várias possíveis motivações para a renúncia, diferentes da divulgada: saúde debilitada e idade avançada. Resgatou-se até seu passado na juventude hitlerista. Uma grande bobagem, até porque Bento XVI – novamente Ratizinger a partir deste 28 de fevereiro – sempre falou sem reservas sobre o assunto. Na sua adolescência bávara dos anos 1940, em plena segunda guerra mundial, isso era obrigatório e questão de sobrevivência.

Vamos, pois, lembrar aqui de um fato polêmico – para muitos estudiosos, apenas uma lenda: a história da Papisa Joana, a única mulher a governar a Igreja Católica em toda a sua existência.

Pesquisei um pouco e encontrei várias versões sobre o assunto. Vamos tentar fazer uma compilação, seguindo a linha que parece ser a mais coerente.

Joana teria sido uma jovem alemã (sempre eles) extremamente culta e estudiosa, que resolveu passar-se por homem para adentrar em um mosteiro (não se sabe ao certo se por sua sede de conhecimento ou em razão de seu envolvimento com um monge) sem despertar suspeitas.

Sua inteligência a fez destacar-se como cardeal. Com a morte do papa Leão IV, no século IX, foi eleita por unanimidade sua substituta, adotando o nome de João VIII.

Seu pontificado teria sido bastante positivo, mas uma gravidez provocou um desfecho inesperado na história. As largas vestes de Papisa permitiram a Joana esconder sua condição durante meses, mas ela acabou por dar à luz seu bebê durante uma procissão, em meio a uma multidão perplexa e indignada.

Não há consenso sobre a sequência da história. Na versão mais aceita, Joana e seu filho teriam sido apedrejados até a morte; em outra, teria morrido por complicações do parto; em mais uma, a igreja teria transformado o fato em um milagre, e a Papisa se enclausurado para sempre.

Outras possibilidades: a lenda da Papisa Joana teria sido criada pelos ortodoxos, de forma a desmoralizar a igreja rival; Joana, na realidade, teria sido um eunuco, rotulado de forma jocosa como mulher.

Historiadores afirmam que alguns episódios reforçam a tese da existência da Papisa nos anos 850:
  1. a partir do século IX foi instituído um exame táctil para atestar que cada novo Papa era, de fato, do sexo masculino. Esse procedimento foi abolido apenas no século XIX;
  2. no século XIII, o Papa João XX teria alterado seu nome para João XXI, reconhecendo um João “omitido” na relação de Papas da Igreja.

Aos cinéfilos, há pelo menos dois filmes sobre o tema, ambos germânicos: Pope Joan (1972) e Die Päpstin (2009).

História ou lenda? Os fatos aqui narrados podem ser verdadeiros, ou não. 

Particularmente, acredito que a Papisa Joana existiu, o que, por si, não pesa a favor nem contra a igreja católica. É apenas história. 

Falar de religião, de fé – ou mesmo da falta dela – é sempre um assunto delicado. Conheço muita gente boa – outras nem tanto – de tudo o que é religião e crença: católicos, evangélicos, espíritas, ateus... E acredito que o fundamental é tolerância e respeito às convicções de cada um, sem sectarismo.



P.S. Pérola na Wikipedia. O último Papa com o mesmo nome de Bento XVI foi Bento XV. Ah, bom... 



domingo, 24 de fevereiro de 2013

Quando o futebol é o que menos importa


Algumas horas antes de San Jose x Corínthians, na Bolívia, pelo Grupo 5 da Copa Libertadores, a delegação brasileira deixa Cochabamba com destino a Oruro, local da partida, distante 210 km, mesmo percurso realizado por Kevin Beltrán e sua família. 

Torcedor fanático, o garoto não perderia por nada o embate do seu time contra o campeão do mundo.



O San José não é exatamente uma potência , nem mesmo em se tratando do decadente futebol boliviano, atualmente o mais fraco da América do Sul. 

Com dois títulos nacionais em sua história, as grandes armas da equipe são os 3.702 metros de altitude do estádio Jesús Bermúdez e o seu torcedor número 1, o Presidente Evo Morales.

Seja em um país paupérrimo, como a Bolívia, seja no Brasil (vide Lula/Corínthians), seja na Itália (Milan/Berlusconi), o fato é que ter um padrinho forte faz uma faz baita diferença...

Conta-se no país andino que o Presidente da República prometeu doar US$ 500 mil ao San Jose. Ocorre que seu irmão Hugo perdeu as eleições para comandar o clube, Evo magoou e até hoje ningué viu a cor do dinheiro. Lá como cá, é assim que as coisas funcionam.

Bem, voltando à história inicial: fim de jogo, empate em 1 a 1, gol corintiano do peruano Guerrero – sempre ele – o herói da conquista do titulo mundial contra o Chelsea.

Mas o que menos importava era o resultado do jogo. Na comemoração do gol, um torcedor brasileiro disparou das arquibancadas do acanhado estádio local um  sinalizador (desses que se usa em navios) contra a torcida boliviana. 

O projétil cilíndrico de cerca de 20 cm percorreu 40 metros. O jovem Jonathan Beltrán sentiu apenas uma rajada de vento arrancando seu gorro. Ao olhar para o lado, já viu seu primo Kevin, de apenas 14 anos, estendido sobre a grade, fulminado com o artefato plástico alojado em seu olho esquerdo. Causa do óbito: traumatismo craniano.

Doze brasileiros foram presos pela polícia local, suspeitos da autoria do crime. Passados alguns dias, as investigações apontavam para dois possíveis autores, de 21 e 24 anos de idade.



Neste domingo, uma reviravolta. A Gaviões da Fiel, torcida organizada de histórico pouco abonador, identificou o autor do disparo fatal: um funcionário da agremiação, de 17 anos. O adolescente vai confessar e, por ser menor de idade, não poderá ser responsabilizado pelo crime.

Muito cômodo. E prático. Até porque, o curioso – e bota curioso nisso – é que o adolescente que vai assumir tudo encontra-se no Brasil, livre, leve e solto, e não faz parte do grupo original dos doze suspeitos que permanecem retidos na Penitenciária boliviana de San Pedro.

Muito estranho. Mas não surpreendente. É bom lembrar que se o rapaz tivesse falado isso em território boliviano ele estaria bem enrascado, visto que lá a maioridade ocorre aos 16 anos. A Gaviões realmente pensou em tudo.

Desnecessário lembrar que o lamentável episódio poderia ter ocorrido com a torcida de qualquer clube brasileiro. Afinal, todos têm sua parcela – felizmente uma minoria – de marginais.

Mas bem que a diretoria poderia parar de falar bobagem, especialmente o presidente Mário Gobbi, que, aliás, é advogado. Ele é contra qualquer punição para o timão. Ou seja: jogar latinha em campo não pode, o time perde o mando de campo. Apontar um morteiro contra a torcida adversária é uma fatalidade, não merece punição. 

A questão é financeira. O Corínthians deve mandar todos os seus jogos na competição com portões fechados, o que significará um imenso prejuízo financeiro. Convenhamos, dado o contexto, isso não tem a menor importância.

Quarta-feira. Kevin chega ao Estádio de Oruro para ver o campeão do mundo jogar.

Domingo. Os pais de Kevin chegam ao cemitério de Cochabamba para ver a pessoa mais importante do mundo partir.

Solidarizemo-nos com sua dor.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Sobre processos, ferramentas... e algo mais






Esses dias, lembrei-me de uma palestra de baixíssimo nível (tecnicamente falando, bem entendido) proferida por um professor do MBA. Ao terminar e perguntar se alguém tinha alguma dúvida, o mestre ficou sem ação, quando uma colega baiana, perguntou com seu sotaque arrastado:

- Professooor, tô só com uma dúvida. A pronúncia certa é bit ou é byte?...

Bem, hoje, fiquem tranqüilos. Não vou falar de bits, nem de bytes.

Ao ler esse texto (como quase todo texto, né?) dá vontade de parar na metade, ou antes disso, pois fala de uma coisa meio batida. Mas ao final, prometo, mudo um pouco o foco (o “algo mais” do título). Por favor, respire fundo, faça um esforço e vá até o final. 

No trabalho ou mesmo na vida pessoal é muito legal quando nos depararmos com uma ferramenta que nos dê produtividade, que nos permita fazer o que fazíamos antes muito mais rápido, com mais qualidade, mais controle, que possamos, no dia seguinte, dar continuidade à tarefa de ontem com mais facilidade, etc.

Mas algumas coisas sempre me preocuparam em relação a isso: o excessivo peso que atribuímos às ferramentas, ou, mais especificamente, à falta delas. É muito freqüente ouvirmos alguém falar que não está realizando adequadamente suas atividades pela falta do software adequado.

Às vezes, mas somente às vezes, isso é verdade. Em determinadas situações ocorre até o contrário: existir mais de uma solução que atenda àquele propósito. Mas vamos logo nos livrando do abacaxi. Falta a tal da ferramenta. Aí, de forma precipitada, baseado apenas na choradeira, sem uma análise mais acurada sobre a existência de algo similar que já atenda a necessidade, o setor de compras parte direto para a aquisição.

Falemos, então, de algo precedente: o processo. Sem querer falar o que todo mundo sabe (mas já falando) a academia se refere ao tripé Pessoas, Processos e Ferramentas, nessa ordem. Precisamos declarar qual o processo necessário, para só então adquirirmos (ou desenvolvermos) a solução de TI que o suporta. 

Em se tratando de uma commodity, algo que não vai gerar um diferencial estratégico à organização, podemos - e devemos - fazer algo bem mais racional: adquirir uma solução já consolidada e adotar o processo validado e sedimentado pelo mercado, abrindo mão de um paradigma arraigado internamente, que muitas vezes se baseia numa realidade desatualizada, que não mais se mostra efetiva hoje. 

O que estou dizendo não é nenhuma novidade (como, aliás, quase tudo na vida e no trabalho). 

De qualquer forma, a quase totalidade dos problemas organizacionais não está nas ferramentas e nem mesmo nos processos: está na ATITUDE!

O que mais observamos em reuniões, em correspondências corporativas ou mesmo nas conversas informais durante o cafezinho ou nos corredores, é a tendência natural, inerente ao ser humano, a atribuir os problemas enfrentados a algum fator externo.

EU estou fazendo a coisa certa, mas o processo está ruim. Ah, tá bom? Então é a ferramenta. Ok, a ferramenta também está lá. Então é o colega ao lado que está me boicotando; ou o sistema vive caindo; ou a instrução normativa não está muito clara; ou parece que meu chefe não gosta de mim; ou a empresa não me valoriza; ou a Dilma, ou o Obama, ou os políticos, ou  quem quer que seja, não está fazendo a sua parte. Algo precisa mudar, para que aquilo que eu já venho fazendo corretamente funcione.

Ou seja, a culpa está sempre em alguma instância alheia a mim, pois dessa forma posso permanecer em minha zona de conforto e não fazer nada para resolver.

Costumo dizer que temos solução para a dívida externa do Brasil ou para a corrupção dos políticos. Agora, sair do cheque especial ou não comprar CD pirata, isso já outra história...

Precisamos, a todo instante, refletir profundamente sobre nossas atitudes. Quem tem um mínimo de autocrítica e discernimento, sabe o quão difícil é se distanciar de uma situação o suficiente a ponto de  enxergar a si próprio no mesmo nível dos demais. Talvez isso seja a tal da empatia de que tanto falam...

Por mais que estejamos fazendo tudo certo, por mais que o problema esteja em outra instância, se eu me dispuser a resolvê-lo, com certeza vai existir algo na minha esfera de atuação em que minha contribuição será bem-vinda.   

Vamos tentar?