No mundo corporativo, quando algo precisa de uma alçada muito alta de decisão, não
é raro o uso da expressão “precisamos da assinatura de dois papas
vivos”. Pois bem. Nos últimos dias, a assinatura de um único Papa
já não é algo muito fácil de se obter.
A renúncia do Papa Bento XVI pegou
muita gente de surpresa, pois há séculos – desde Gregório XII,
em 1.415 – isso não ocorria na Igreja. Cogitou-se várias
possíveis motivações para a renúncia, diferentes da divulgada:
saúde debilitada e idade avançada. Resgatou-se até seu passado na
juventude hitlerista. Uma grande bobagem, até porque Bento XVI –
novamente Ratizinger a partir deste 28 de fevereiro – sempre falou
sem reservas sobre o assunto. Na sua adolescência bávara dos anos
1940, em plena segunda guerra mundial, isso era obrigatório e
questão de sobrevivência.
Vamos, pois, lembrar aqui de um fato
polêmico – para muitos estudiosos, apenas uma lenda: a história
da Papisa Joana, a única mulher a governar a Igreja Católica em
toda a sua existência.
Pesquisei um pouco e encontrei várias
versões sobre o assunto. Vamos tentar fazer uma compilação,
seguindo a linha que parece ser a mais coerente.
Joana teria sido uma jovem alemã
(sempre eles) extremamente culta e estudiosa, que resolveu passar-se
por homem para adentrar em um mosteiro (não se sabe ao certo se por
sua sede de conhecimento ou em razão de seu envolvimento com um
monge) sem despertar suspeitas.
Sua inteligência a fez destacar-se
como cardeal. Com a morte do papa Leão IV, no século IX, foi eleita
por unanimidade sua substituta, adotando o nome de João VIII.
Seu pontificado teria sido bastante
positivo, mas uma gravidez provocou um desfecho inesperado na
história. As largas vestes de Papisa permitiram a Joana esconder sua
condição durante meses, mas ela acabou por dar à luz seu bebê
durante uma procissão, em meio a uma multidão perplexa e indignada.
Não há consenso sobre a sequência da
história. Na versão mais aceita, Joana e seu filho teriam sido
apedrejados até a morte; em outra, teria morrido por complicações
do parto; em mais uma, a igreja teria transformado o fato em um
milagre, e a Papisa se enclausurado para sempre.
Outras possibilidades: a lenda da
Papisa Joana teria sido criada pelos ortodoxos, de forma a
desmoralizar a igreja rival; Joana, na realidade, teria sido um
eunuco, rotulado de forma jocosa como mulher.
Historiadores afirmam que alguns
episódios reforçam a tese da existência da Papisa nos anos 850:
- a partir do século IX foi instituído um exame táctil para atestar que cada novo Papa era, de fato, do sexo masculino. Esse procedimento foi abolido apenas no século XIX;
- no século XIII, o Papa João XX teria alterado seu nome para João XXI, reconhecendo um João “omitido” na relação de Papas da Igreja.
Aos cinéfilos, há pelo menos dois filmes sobre o tema, ambos germânicos: Pope Joan (1972) e Die Päpstin (2009).
Particularmente,
acredito que a Papisa Joana existiu, o que, por si, não pesa a
favor nem contra a igreja católica. É apenas história.
Falar de religião, de fé – ou mesmo
da falta dela – é sempre um assunto delicado. Conheço muita gente
boa – outras nem tanto – de tudo o que é religião e crença:
católicos, evangélicos, espíritas, ateus... E acredito que o fundamental é tolerância e respeito às convicções de cada um, sem sectarismo.
P.S. Pérola na Wikipedia. O último Papa com o mesmo nome de Bento XVI foi Bento XV. Ah, bom...