segunda-feira, 28 de março de 2016

A Arte da Desculpability



Muito se tem falado em Accountability, um termo em inglês sem tradução literal na língua portuguesa, e talvez por isso bastante polêmico quanto ao seu significado. Responsabilidade com ética, prestação de contas ou simplesmente responsabilização são algumas das definições aceitáveis para accountability.
Embora para muitos seja algo recente, há muitos anos que essa palavra chegou por aqui.

Accountability está relacionado, de certa forma, aos conceitos de governança e controladoria, e, nesses tempos de crise ética e política, está mais atual do que nunca.
Como todo termo da moda, os consultores, principalmente, adoram utilizá-lo, e muitas vezes de forma indevida.       

Há alguns anos, li na internet que “...o Governador do Ceará apresentará a accountability (andamento de projetos) da Agenda Positiva do Estado.” Uma interpretação bastante simplista.
Fala-se em accountability horizontal, accountability vertical, accountability branda, mas pra mim, o accountability interno, aquele relacionado à autorresponsabilização é a busca que devemos fazer sempre, e que puxa os demais conceitos. Algo relacionado a um termo pelo qual tenho uma ideia fixa: Atitude! É a não terceirização de nossas responsabilidades, a assunção do protagonismo de nossas vidas, tanto no âmbito pessoal como profissional.

O oposto disso tudo é um neologismo que conheci recentemente e considero perfeito: a desculpability, cada vez mais presente na nossa sociedade, e particularmente nas organizações.
Mas por que algumas pessoas sempre arranjam um culpado para todas as suas adversidades? Porque é cômodo. Porque se eu sempre atribuo meus problemas a um fator externo, eu não preciso mudar. É um mecanismo de defesa.

O problema maior é quando a desculpability se torna automática, e passamos a utilizá-la de forma subconsciente.
Temos vários exemplos disso no nosso dia-a-dia.

Quando um colega é promovido, o preterido normalmente acha (ou melhor, tem certeza) que o processo foi injusto, que a vaga deveria ser dele.
Quando um funcionário é advertido por chegar sempre atrasado, é o chefe que está pegando no pé.

Eventualmente, claro, o processo seletivo pode ter sido falho, o chefe pode estar sendo rigoroso em excesso e podemos realmente estar sendo injustiçados. Afinal, estamos falando de pessoas, e pessoas podem errar.
Mas precisamos tentar um olhar crítico sobre nossas próprias atitudes. Somos a pessoa mais importante para nós mesmos, mas na sociedade somos apenas mais um.