terça-feira, 27 de março de 2012

Gulag Moderno


Gulag é um acrônimo russo, significando algo como Campo de Trabalho Correcional. Na prática, eram campos de trabalhos forçados utilizados massivamente por Lênin e Stálin, durante cerca de 40 anos, em meados do século passado.
 
Há alguns meses li uma reportagem n’O Estado de São Paulo retratando o Gulag dos tempos atuais, na Coreia do Norte. Os relatos eram tão escabrosos que de vez em quando o assunto me volta à mente. Resolvi postar esse texto sobre o tema, como uma espécie de exorcismo, pra ver se esqueço isso de vez. 

No romance inacabado O Processo (Der Prozess), Franz Kafka narra a história de Joseph K, que é preso sem saber o motivo. Pois bem, essa é a realidade de boa parte das cerca de 200 mil pessoas  aprisionadas na Coreia, condenadas por algo como “culpa por associação”, ou seja, simplesmente pagam pelo parentesco com alguém que cometeu o horrendo crime de ... fugir para a Coreia capitalista, a do Sul. Na impossibilidade de punir o desertor, a ditadura de Pyongyang simplesmente prende para sempre toda a sua família. Atletas que denegriram a imagem norte-coreana no exterior (leia-se perder uma partida de futebol, por exemplo) também são moradores contumazes das prisões. 

Os depoimentos são inacreditáveis, e vão desde o consumo de excrementos de animais até casos de canibalismo. Mas o que mais revolta é que essa realidade parece longe de acabar, pois no país reina uma gigantesca lavagem cerebral. Nada a menos do que cinco milhões de fanáticos – um quinto da população do país – participaram da despedida do ditador Kim Jong-il, morto no final de 2011.

Não dá para comparar, mas lembrei dos meus tempos de bancário no interior de Pernambuco, no início da década de 90, quando constatei, perplexo, como a população das cidades do interior legitimam o poder do prefeito, considerando natural a apropriação ilícita dos bens públicos e o enriquecimento vertiginoso e imoral.    

segunda-feira, 19 de março de 2012

Jumentices


Deu n’O Globo: “Jumentos brasileiros serão exportados para a China”. Calma, não vá imaginando que você vai se livrar daquele idiota... Trata-se do quadrúpede mesmo, o jegue, muito popular no nordeste brasileiro. Na Ásia, o simpático animal será utilizado na indústria de alimentos e de cosméticos.

A política de assistencialismo implantada pelo governo Lula, aliada à facilidade creditícia, alterou significativamente o paradigma de transporte nos rincões nordestinos. Primeiramente, a bicicleta tomou o lugar do animal. Na sequência veio a motocicleta, que impera até hoje.

O que a reportagem não citou é que, algum tempo atrás, a partir do momento em que se tornou dispensável, o jegue passou a ser objeto de uma curiosa atividade em determinadas localidades: a “desova jumentícia”. Na calada da noite, alguns municípios lotavam caminhões com sua população excedente de equus asinus e os despejavam em cidades vizinhas. Além de ser responsável por diversos acidentes nas estradas, o jumento também era nocivo à agricultura.

Li na Wikipedia que jumento, asno e burro são conceitos equivalentes. Até onde sei, o burro é resultado do cruzamento entre o cavalo e a jumenta, ou vice-versa. Ou seja, um perfeito filho duma égua. A mula seria estéril por ter 63 cromossomos, um meio termo entre os 64 do cavalo e os 62 do jumento.

Quando eu era publicitário, recebi um roteiro de um comercial, no qual um jumento enaltecia as qualidades de uma loja de produtos agropecuários. Para fazê-lo “falar”, precisávamos fazer com que o animal movimentasse a boca, para, em tempo de edição, executarmos a “dublagem” do texto. O asno, que não era burro, exigiu que o alimentássemos. Comprei um quilo de milho e, na falta de onde colocar, enchi meu capacete de motoqueiro para servir o bicho. Resultado: o jumento comeu todo o milho, mas devorou também o forro do meu capacete. Saí no prejuízo, mas até que a propaganda saiu legal...