E isso tem adquirido uma importância
especial pra mim, até pelo fato de estarmos envolvidos com o tema sob diferentes
dimensões.
Já fui desenvolvedor, já fui
demandante dos serviços de fábrica, já cuidei dos contratos – sendo, portanto,
intermediário entre a contratante e a contratada – e agora, pra completar o
ciclo, estou do lado de lá, como fornecedor.
O tema, por si só, já é muito
interessante. E percebê-lo sob diversas óticas torna tudo mais complicado –
afinal, a ignorância é o segredo da felicidade – mas também muito mais
gratificante.
Esses dias, conversando com duas
colegas de trabalhado, fui consultado sobre o que, em princípio, parecia ser
feijão-com-arroz pra mim, mas que percebi ser uma abordagem totalmente
diferente: quanto vale um software.
Minha preocupação sempre foi o preço
justo de um sistema sob a ótica do custo, afinal o desafio era, até então, a
prestação do serviço, visto que o seu produto – no caso, o aplicativo – era propriedade
do contratante.
Nesse contexto, podemos definir a
métrica como a questão central. Quem é do meio sabe que apenas isso já é
uma questão bastante complexa, envolvendo conceitos como SLoC (linhas de código),
UCP (Casos de Uso), Pontos por Objeto, APF
(Pontos de Função) e outros.
Para termos uma ideia de
grandeza, há alguns anos (ou seriam décadas?) trabalhávamos no BB com uma
ferramenta Case (Computer-Aided
Software Engineering, ou Engenharia de Software apoiada por computador) da
Texas Instruments. Reza a lenda que esse produto, chamado de IEF, tinha 20 mil
pontos de função. Para efeito de comparação, o compilador VB e os populares
Word, Excel e Project, todos produtos Microsoft, assim como o CICS, monitor de
TP da IBM, têm entre 2 e 3 mil Pontos de Função de tamanho.
Há alguns meses fiz uma palestra no
IFPUG sobre as métricas contratuais adotadas nas Fábricas de Software do BB (basicamente APF e a
nossa USTIBB) e, pela reação da plateia, percebi que estamos no caminho certo.
Até aqui, falamos basicamente de
medir o produto. Para o adquirente, no entanto, há outras questões, podendo
envolver inclusive métricas de processamento, como os MIPS (milhões de
instruções por segundo) consumidos pela aplicação.
Bom, mas como falei, a questão
aqui não é métrica. Ou não é só
métrica.
Trata-se do valor de um software de prateleira, que vai muito
além da questão do custo.
Para entendermos o problema –
primeiro passo para chegarmos à solução – vamos trabalhar com um exemplo
hipotético, de um aplicativo que custou R$ 100 mil para a softwarehouse em despesas de pessoal. Em tese, a aplicação poderia
ser vendida por uns R$ 150 mil, propiciando uma margem bruta de 50% e uma
margem líquida bem menor, se considerarmos outras despesas administrativas, de infraestrutura,
impostos, taxa de risco, etc.
Mas vamos a algumas das diversas variáveis
envolvidas.
A primeira (e principal): qual a
percepção de valor que um potencial cliente enxerga no nosso produto? O que ele
vai propiciar de retorno para o comprador? Ele se dispõe a pagar os R$ 150 mil?
Meu produto é exclusivo ou há similares no mercado? Quanto custam? E se existir
um Software Livre que atende os mesmos
requisitos?
Mas tem muito mais: posso vender para
apenas um cliente ou lucrar com várias cópias? Vou vender a licença? Ou o
serviço (SaaS)? Haverá um contrato de
manutenção? O treinamento está embutido no preço? Para quantos usuários?
Vamos adiante: o produto será
customizado às necessidades do cliente? Qual o nível de integração envolvido? Requer
a aquisição de outros produtos? Vai rodar na nuvem? O cliente tem um processo
de diferimento definido? Isso torna o produto “mais barato” na prática. Qual o
SLA do contrato?
Bom, respostas pra tudo isso (se
eu as tivesse) iria estender demais esse artigo. Além disso, no mundo real, envolvemos
vários intervenientes, como a área técnica, o marketing e o jurídico, dentre
outros.
Escrevo aqui mais como uma provocação
para refletirmos sobre o tema. Afinal, essa é uma preocupação que envolve desde
gigantes da TI como uma IBM ou uma Oracle,
até o estudante de ciência da computação que está desenvolvendo um site para a
microempresa de um amigo.