domingo, 11 de dezembro de 2011

Páreo duro


Ontem assisti boa parte do que é, hoje, o maior clássico do futebol mundial: Real Madrid x Barcelona. E o que vi me deixou assustado, em relação ao que espera o Santos no mundial interclubes. O Real Madrid é um supertime, vinha embalado, líder disparado do campeonato espanhol. Cristiano Ronaldo está em grande fase e é a estrela maior do elenco mais caro do planeta, no qual também brilham Casillas, Özil, Xabi Alonso, Di Maria e Benzema. Para se ter uma idéia da qualidade do plantel galáctico, Khedira, Kaká e Higuaín esquentam banco no Bernabéu.

Pois bem, o clube catalão simplesmente ignorou os merengues, ganhou de três e poderia ter feito cinco ou seis. Foi um passeio. E é isso que espera os meninos da vila, caso não tenhamos nenhuma surpresa no dia 14 de dezembro, quando Santos e Barça enfrentam os fracos Kashiwa Reysol e Al-Sadd, respectivamente.

O Santos pode ser campeão? Pode, mas se isso ocorrer, certamente será parecido com as últimas conquistas sulamericanas no torneio, ou seja, no sufoco.

Há exatos trinta anos, o Flamengo se impôs ante o Liverpool, enfiando 3x0 numa vitória incontestável. Não sou rubro-negro, mas aquele timaço de Zico, Junior, Adílio e Leandro era realmente espetacular. De lá pra cá, nunca vi uma vitória tranqüila de um clube brasileiro. E olha que já foram cinco conquistas: três do São Paulo, uma do Grêmio e outra do Internacional. Isso sem considerarmos o título meia-boca do Corínthians em 2000, que chegou lá mesmo sem ter conquistado a Libertadores.    

No esperado duelo Messi x Neymar, a estrela solitária do peixe certamente vai precisar de ajuda. E essa ajuda só pode vir de um talentoso meio-campista, que há meses vem devendo uma grande exibição: Paulo Henrique Ganso. Vamos torcer.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Josés


José morreu neste domingo, 28 de fevereiro, aos 95 anos, em São Paulo. Bibliófilo, intelectual e acadêmico, era um apaixonado pela cultura em suas diversas formas. Era o maior colecionador de livros do Brasil. O grande legado que José nos deixa é sua história de vida, pautada pela ética, ao longo de sua atuação empresarial, política e social. 
Membro da Academia Brasileira de Letras, José doou seu acervo de 38 mil títulos para a Universidade de São Paulo. Na década de 70, então secretário de cultura, pediu exoneração do cargo quando a ditadura militar insistiu na versão de suicídio do jornalista Vladimir Herzog. Foi um dos únicos nove empresários brasileiros a assinar, durante esse período negro da história do país, um manifesto pela abertura política. Até sua morte, pouco se falava de José, pois integridade não dá muita audiência.

Também temos o “nosso” José. Político de sucesso, administrador competente, o José candango, mineiro de nascimento, é figurinha carimbada na mídia, chegando, finalmente, – e ainda bem – ao ápice: as páginas policiais. Circunstancialmente, é verdade, e tão-somente por conta de desavenças na cúpula da quadrilha. Desde o carnaval, José e alguns comparsas estão presos.

Dois Josés, duas escolhas, duas histórias de vida. O livre-arbítrio e duas trajetórias tão díspares. Talvez a chave esteja numa palavra: educação. Como alguém já falou (não me recordo a fonte): não nos preocupemos somente com o mundo que vamos deixar para os nossos filhos, mas também - e principalmente – com os filhos que estamos deixando para o mundo.

Publicado originalmente em 02/03/2010

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Bola murcha


A Copa Sulamericana mostrou a fragilidade do atual futebol brasileiro. Os times que chegaram à segunda fase da competição estão, em sua maioria, brigando pela ponta no nosso campeonato, mas tiveram participação pífia na disputa continental. Assim é que São Paulo, Botafogo e, principalmente, o Flamengo, foram vergonhosamente eliminados por seus rivais paraguaios, colombianos e chilenos, respectivamente. O Vasco passou, mas o fez tomando seis gols de um time de várzea, três na Bolívia e três na volta.
O maior fracasso foi, sem dúvida, o rubro-negro carioca, talvez o melhor elenco do futebol brasileiro - pelo menos o mais caro. No primeiro jogo, em casa, time completo, conseguiu cair de quatro para “La U”. A Universidad de Chile poderia ter feito o dobro, tal o seu domínio. E não foi a circunstância do placar que fez o Flamengo se abrir e tomar a goleada. Desde o primeiro minuto a equipe brasileira foi sufocada. Os chilenos perderam uma infinidade de gols – um pênalti, inclusive – e foram garfados, tanto na anulação de um gol legal quanto na injusta expulsão de um jogador. Perdoem o trocadilho, mas o time de Lorenzetti deu um banho. Foi uma calamidade.
Para chegar ao título, o Vasco agora tem que passar pelo fraco Universitário (Peru) e, na sequência, a projeção é que encare a perigosa Universidad de Chile na semi e o sempre enjoado Vélez Sarsfield na final.
Voltemos à reta final do campeonato brasileiro. Emocionante, indefinido, mas de baixo nível técnico, ao contrário do que querem nos vender os cronistas esportivos.

sábado, 29 de outubro de 2011

Tadeu


Esses dias lembrei-me do meu saudoso amigo Tadeu, o cara mais assertivo que conheci. Ele nunca ficava em cima do muro em assunto nenhum. Conhecesse ou não. Lembrei também dos nossos tempos de Recife. E da folclórica história do Mário e da água.
Faz muitos anos, mas foi mais ou menos assim: o Tadeu e o Mário dividiam um minúsculo apartamento, no bairro de Setúbal. Nos finais de semana, Tadeu ia religiosamente para Maceió, visitar a família. O Mário, mais raramente, ia a São Paulo, com o mesmo objetivo.
Naquela época era muito freqüente a falta d’água. Quando a situação piorava, o mau-humor crônico do Mário se manifestava, e ele saía gritando pelos corredores do imenso condomínio, pra todo mundo ouvir.
- Quando a merda dessa água voltar, eu vou deixar a torneira aberta pra esvaziar toda a caixa do condomínio. Isso é uma pouca vergonha!
Uma bela tarde de domingo, Tadeu viajando, Mário se preparava para a sua habitual caminhada na av. Beira-mar de Boa Viagem. Ele abre a torneira e... pronto! Sem água de novo! Mário dá sua resmungada básica, sai batendo a porta... e esquece de fechar o registro.
Alguns minutos depois, a água chega, e algumas horas depois o prédio vira um pandemônio. Vários apartamentos são tomados pelo “rio”, cuja nascente é o apartamento dos nossos dois amigos. A unidade mais prejudicada é exatamente a do síndico, que ficava bem em frente, porta com porta.
Lá pelas 10 noite, ao chegar, meio trôpego, com excesso de chope no juízo, Mário percebe a cagada que fez. E vê que a coisa não vai acabar bem. Joga umas roupas na bolsa e vaza, procurando um lugar para passar a noite. A situação foi agravada porque, ao procurar informações, o síndico ouviu do porteiro do prédio que “... o seu Mário falou que ia deixar a torneira aberta de propósito...”
Segunda-feira pela manhã, Tadeu chega de Maceió direto para o Banco. À noite, chegando em casa, é chamado para uma reunião de condomínio, convocada às pressas. Vai direto pra lá, sem passar pelo apartamento. Chega atrasado, mas a tempo de ouvir o síndico bradar:
- Tem uma coisa! A próxima vez que isso acontecer, pode ser o apartamento do presidente da república! Eu ponho a porta abaixo e desço o cacete! Isso é inadmissível!
Sem saber direito do que se trata, inteira-se da situação com o vizinho, que lhe conta o ocorrido, mas ainda sem saber que era sua unidade era o pivô da história. Até o síndico, cada vez mais exaltado, complementar:
- Porque se esse povo 402 acha que vai passar impune, está muuuito enganado! Vão se foder!
Caiu a ficha. Tadeu estava sentado na última fileira de cadeiras. Calmamente, levanta o braço e pede a palavra.
- Desculpe, mas o “povo” do 402 está aqui. Vamos combinar o seguinte. Da próxima vez que faltar água, eu mesmo vou deixar a torneira aberta.
E cada vez mais calmo, mais pausado.
- Mas fiquem tranqüilos. Não vai precisar ninguém derrubar minha porta, pois ela vai estar aberta.
E mudando radicalmente o tom:
- AGORA EU QUERO VER QUEM É MAAACHO PRA ENTRAR NA MINHA CASA! VAI SER RECEBIDO À BALA! E SE ALGUÉM QUISER SE ADIANTAR, PODE SE APRESENTAR AGORA, PRA GENTE JÁ RESOLVER ISSO!
Tadeu era gordo e baixinho, mas nessas horas virava um gigante.
- Não, seu Tadeu, o que é isso... Aqui todo mundo é civilizado, vamos resolver tudo na paz...
Completamente alterado, Tadeu já estava de pé.
- AGORA É NA PAZ, É CIVILIZADO! ANTES IAM DERRUBAR, QUEBRAR TUDO! SÓ QUE VOCÊS MEXERAM COM O CARA ERRADO!!
Segundo relatos, até tiro pra cima o Tadeu teria dado. Mas isso é conversa. Ele resolveu o assunto só na verve oratória. Todos foram dispersando, a reunião foi rapidamente encerrada e nunca mais se falou do assunto. “Seu” Tadeu passou a ser temido, tratado com todo o cuidado e até admirado por alguns desafetos do síndico. Já o Mário nunca mais deu as caras por ali.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Em Cartaz


O incêndio que consumiu três salas de cinema na Academia de Tênis decretou o encerramento das atividades daquele importante espaço cultural de Brasília. Já faz mais de um ano que os cinéfilos da cidade estão órfãos de produções independentes, ou pelo menos fora do circuito dos shoppings. Se comparada com algumas metrópoles do país, Brasília ainda tem um número razoável de salas. Apesar disso, a diversidade é baixa e procurar um bom filme alternativo não tem sido uma tarefa fácil.

Nesse contexto, a mostra CCBB Em Cartaz, entre os dias 11 e 30 de outubro no Cine Brasília, é um presente para os candangos. São quinze filmes inéditos na Capital. Surpreendentemente, as primeiras sessões não têm lotado o antigo e confortável cinema do eixinho sul... e olha que a entrada é franca.

Aproveitei o feriado desta quarta-feira para assistir ao filme francês “Esses Amores”, de Claude Lelouch. O septuagenário diretor faz uma espécie de revival à sua trajetória profissional num belo filme, que não foi bem recebido por alguns críticos, talvez por conta de sua, digamos, heterogeneidade.

Como sempre, não gostei do título em português. Acho a expressão sem peso. Daqui a uns quinze dias, se alguém perguntar, já não lembro mais o nome do filme. De qualquer forma, tenho uma birra com distribuidores, até porque, o original - Ces Amours-là – significa exatamente isso, ou Esse Tipo de Amor, numa tradução literal. O título em inglês – What Love May Bring, ou O Que o Amor Pode Trazer – consegue ser ainda mais piegas.

Apesar de certa liberdade no estilo e na estética – principalmente no início e no final -, não vá esperando um filme “cabeça”, de difícil entendimento, justificativa para muita produção mal-feita que vemos com freqüência por aí.

A trama é consistente, a trilha sonora é belíssima – interpretada de vez em quando pelos protagonistas, embora não seja um musical – direção, elenco, figurino, maquiagem... tudo funciona.

O filme gira em torno da bela Audrey Dana, no papel da inconseqüente Ilva Lemoine. Sua intensa vida pessoal tem como pano de fundo os acontecimentos históricos relacionados à ocupação francesa pelo nazismo na segunda grande guerra, mas se estende por boa parte do século XX.

Somente ao apagar das luzes é que Lelouch escorrega um pouco, utilizando a receita pronta dos dramalhões americanos, ao forçar um desfecho água com açúcar, previsível. Isso, no entanto, tem a ver com o tom de comemoração e despedida utilizados pelo diretor, o que contribui para irmos embora com uma sensação de leveza e a remota esperança de que, quem sabe também na vida real, tudo irar conspirar para um final feliz.

Talvez aí resida a magia do cinema.

domingo, 9 de outubro de 2011

Desescrevendo


Acredito que a criação possa ser motivada por diferentes fatores: o talento – claro -, a droga e o sofrimento. Talento eu não tenho; drogas, só aquelas que os psiquiatras, ciclicamente, empurram em mim, na tentativa e erro, numa total falta de convicção. Mas essas não me levam a produzir nada de muito útil. Restaria uma última alternativa: o sofrimento.

Acreditando nisso, há algum tempo comecei a escrever um livro, cujo título provisório era “Memórias de um Idiota do Mercado”. As primeiras páginas surgiram rápido, e foram se multiplicando.

Com o tempo, a autocrítica exacerbada, o perfeccionismo e a constatação de que eu era um mau escritor, produziram um fenômeno curioso. Comecei a “desescrever” – permitam-me o neologismo. No início eram apenas retificações. Na sequência, parágrafos inteiros foram desaparecendo. Uma espécie de Benjamin Button da likteratura. Voltei à estaca zero.

Conheço algumas pessoas que "cometeram" livros. Livros ruins. O pseudoescritor é um chato. Ele tem que apelar para os conhecidos. Dentre esses, há os que não toleram ler – a maioria, aliás. Uns poucos gostam. Mas certamente têm algo melhor para consumir. Poucos conseguiram ler a maioria dos grandes autores. Porque deixar de ler Mann, Joyce, Gabo, Proust, para perder seu tempo com... Sérgio Camelo?!

O mundo, certamente, não vai sentir minha falta.

A propósito, acabo de ler Os Espiões, de L. F. Veríssimo. Horroroso. Estou lendo Misto-Quente, de Bukowski. Autobiográfico (como todo Bukowski), deprê, simples, direto, único. Excepcional.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Nossos comerciais, por favor!


Os mais novos não vão entender o título, mas esse era o famoso bordão de Flávio Cavalcante, um polêmico apresentador de TV nas décadas de 60 e 70, ao chamar o intervalo de seu programa de auditório.

Antes de entrar no Banco do Brasil, nos meus tempos de publicitário, - meados dos anos 80 – a propaganda em Fortaleza era incipiente e insipiente, por assim dizer. Muitos efeitos especiais que atualmente se fazem com extrema facilidade num software qualquer de computação gráfica, com poucos toques de teclado, naquele tempo exigiam um grande trabalho artesanal. Era o caso das “assinaturas” dos comerciais. Lembro de um VT (será que eles ainda têm esse nome?) em que o cliente pediu que a propaganda encerrasse com a imagem de uma de suas lojas, sendo que a logomarca teria que sair girando e crescendo, até encher toda a tela do televisor.

Se fosse uma imagem estática, era trivial, mesmo na pré-história da publicidade cearense. Era só filmar a fachada e sobrepor a marca com um efeito de chroma key (isso nós tínhamos!), que consistia em “recortar” o azul de uma cena, trocando o fundo da imagem por outra qualquer. Naqueles idos já existiam mesas de switcher que faziam o recorte por temperatura de cor. Mas as emissoras de TV de Fortaleza – que locavam os equipamentos para nossas edições - ainda não haviam adquirido essa novidade.

Bom, mas o problema era fazer a imagem sair girando. Tivemos que chamar um marceneiro para construir uma geringonça com uma manivela, pintar de azul, colar a marca do cliente e, na hora da filmagem, ter um trabalhão para eliminar as sombras.

Lembro de outro comercial, bastante simples, encomendado por uma construtora, cujo roteiro consistia em mostrar o sol nascendo durante trinta segundos, com uma música clássica ao fundo e a assinatura “Pense no amanhã, compre um imóvel hoje”.

Parecia tranqüilo: bastava escolher a locação para a filmagem (Praia do Titanzinho), selecionar a trilha sonora (optei pela nona de Beethoven) e agendar o estúdio para edição.

No mais, era acordar cedo e rezar para que o sol não nascesse encoberto. Se isso ocorresse, o único jeito era esperar pelo dia seguinte. Mas, na hora H, o Firmino, cinegrafista da TV Verdes Mares – o bicho era bruto, mais grosso que papel de enrolar prego – com seu sotaque forte de Catolé do Rocha, interior da Paraíba, bateu o pé e determinou: - não vamos filmar! Os raios do sol vão queimar o viewfinder!

Fiquei meio zonzo, sem saber exatamente que diabos era aquilo. Iniciamos uma discussão acalorada. Porque não falou antes? Tinha que ser agora, às seis da manhã?! As coisas só se acalmaram quando, depois de uns quinze minutos de bate-boca, surgiu uma alternativa: filmarmos o pôr-do-sol (a luz branca do amanhecer é que “ofende”, dissera o Firmino) e, na edição, retroagir a imagem. E assim foi. A cena ficou até mais bonita, mas quem já viu um sol nascendo avermelhado?

Num outro VT, o criativo diretor de arte me passou um roteiro com um elefante circulando no supermercado, fazendo compras. Pensei em usar cenas de arquivo, fazer uma tromba artificial e usar closes dessa tromba “vestida” no braço pegando as mercadorias e colocando no carrinho. Mas o criador ficou puto comigo e exigiu um elefante de verdade. Para ele era fácil, sentadão numa máquina de escrever Olivetti só viajando, e depois eu que me virasse com o abacaxi…

Lá fui eu negociar com um circo o aluguel do bendito proboscídeo. O dono do circo – que também era o palhaço, por medida de economia – se mostrou bastante acessível. Forneceria inclusive o domador, que faria o elefante interpretar dignamente seu papel. Estava bom demais para ser verdade. No entanto, na hora do preço, pediu uma fábula. Fiquei revoltado.

- Amigo, eu só preciso do seu elefante por algumas horas, não estou querendo comprar seu circo!

Ofendido, o Bozo cearense encerrou as negociações.

- Procura outro elefante por aí…

Dirigi e editei centenas de comerciais, a maioria de varejo, mas o trabalho que me deu a maior satisfação foi, por incrível que pareça, um programa político para o horário eleitoral. A candidata, Moema São Thiago, era alguém acima de qualquer suspeita: socióloga, engajada, exilada política, fundadora do PDT, pleiteava uma vaga de deputada federal, cargo que era ocupado quase que exclusivamente pelos indicados dos “coronéis” da política cearense, detentores de currais eleitorais. A tarefa, portanto, era árdua. Para complicar, Moema não era conhecida do grande público e o partido não tinha outros candidatos com alguma representatividade, o que aumentava a quantidade de votos necessários à eleição, em função do quociente eleitoral.

Discutíamos sempre cada produção, mas no encerramento da campanha, propus algo diferente. Eu iria editar um programa sem a sua presença, e lhe mostraria depois de pronto. Ela hesitou, mas confiou. Peguei várias fotos de seu exílio em Portugal, chorando, sentada na calçada, caminhando nostálgica pelas ruas de Lisboa. O programa consistia unicamente na apresentação dessas fotos - em preto e branco, para aumentar o apelo dramático – que se alternavam em fusões lentas, tendo ao fundo o fado “Tanto Mar”, criação genial de Chico Buarque, com referências à ditadura reinante no Brasil e em Portugal nos anos 70 e, mais especificamente, à revolução dos cravos de 1974.

Moema emocionou-se, ainda resistiu um pouco, mas acabou liberando a produção, que foi ao ar no último dia do horário político na TV, pouco antes das eleições de 15 de novembro de 1986. Foi um sucesso! Apesar de ser uma figura nova na política convencional, ela foi a única candidata que obteve votos – exatos 83.341 - em todos os municípios cearenses, a segunda mais votada do estado, tornando-se deputada constituinte. Uma vitória inesperada.

Fiz esse trabalho como free lancer, já certo de não receber um centavo, pois ela não tinha onde cair morta. Para minha surpresa, uns quinze dias mais tarde, ao chegar à Terraço, agência de propaganda na qual eu trabalhava, a recepcionista me diz:

- Sérgio, deixaram uma encomenda meio esquisita para você.

Era um saco desses de supermercado, cheio de dinheiro. Não exatamente dinheiro, mas várias moedas e notas pequenas, certamente resultado de uma vaquinha entre amigos. Em valores de hoje, talvez algo em torno de uns duzentos reais.

Há alguns anos, eu estava no Cine Dois Candangos – mais um espaço cultural que desapareceu de Brasília - e revi a Moema de relance. Mas logo as luzes se apagaram, o filme começou e não conseguimos conversar. Ficou a lembrança daqueles tempos de sonhos e ideias.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Mais Teste, Mais Qualidade


O software desenvolvido no BB sempre foi, reconhecidamente, de alto nível. Nos últimos meses demos um salto de qualidade ainda maior. Os testes, anteriormente realizados quase que exclusivamente pelos desenvolvedores - e com muita competência, diga-se de passagem - passaram a ter uma abordagem mais formal, em conformidade com as últimas tendências do mercado. Num trabalho conjunto de diversas áreas - GovTI/PDABB (normatização), gerências de construção (testes unitário e de integração), Gtest (testes de sistema, funcionais e não-funcionais) e área de negócio (testes de aceitação) - em pouco tempo atingimos um grau de excelência comparável às organizações de TI mais maduras do mercado.

É importante destacar que a atuação de equipes dedicadas aos testes não substitui as verificações realizadas pelo desenvolvedor, e sim adicionam um novo esforço de qualidade, após a entrega do código e antes da aceitação do gestor, em consonância com diversas normas de referência e padrões, como a NBR ISO/IEC 12207 e 15504 (5), ISO/IEC 14764 e MPS.Br.

Obviamente, o aumento na complexidade do processo implica um maior custo. No entanto, isso passa a valer à pena a partir do momento em que os erros são identificados o mais cedo possível, reduzindo o custo de correção. Outro aspecto fundamental é o foco no reuso. Dentre os artefatos definidos para o processo - Plano, Scripts, Evidências e Relatório Final - os roteiros irão compor o "enxoval" da aplicação, enquanto os demais artefatos documentam a intervenção realizada. Os RET – Roteiros de Execução de Teste – elaborados são reutilizados quando de novas alterações no sistema, ou mesmo quando se fazem necessários testes de regressão.

A Gtest – Gerência de Teste, Homologação e Liberação – definiu uma série de indicadores destinados a acompanhar e refinar os testes, além da aplicação de um questionário de satisfação aos intervenientes dos projetos concluídos. A análise criteriosa dos números apurados tem se mostrado extremamente útil. Dentre os cerca de 10 indicadores acompanhados, talvez o que melhor expressa o valor que o teste vem agregando aos aplicativos desenvolvidos é o DDR - Densidade de Defeitos Residuais. Nele, relacionam-se os defeitos encontrados nos testes de aceitação pela área de negócios àqueles identificados nos testes de sistema.

A busca contínua de melhoria do processo levou ainda à especialização de papeis, resultando em otimização de recursos, ganho de escala e melhor aproveitamento do perfil de cada profissional de teste, com conseqüente aumento na motivação.

Mais uma vez a TI do BB sai na frente e se torna referência. Mas não paramos por aí. O projeto BB 2.0 é uma oportunidade de avançarmos ainda mais. Vamos mostrar que podemos ser ágeis, dinâmicos, sem abrir mão de processos e padrões. O SOA – Arquitetura Orientada a Serviços - impõe algumas mudanças no processo de teste. Aqueles realizados pelo próprio codificador têm especificidades relacionadas à própria arquitetura, e são parcialmente providos pelas ferramentas de desenvolvimento utilizadas. A partir daí, o software segue para os testes de sistema e aceitação, que têm que ser estruturados com base em novos insumos, um pouco diferentes daqueles a que estamos acostumados. Com certeza, a Ditec irá mostrar sua força em mais esse desafio.

A Copa e o Banco


O assunto do momento é, sem dúvida, a Copa do Mundo. Passeando pelos inúmeros corredores do Sede IV, já se vê muita mobilização. E não deve ser diferente em outros prédios do Banco. É o pessoal se cotizando para a compra de TVs, instalação de bandeirolas, organização de bolões e, como não poderia deixar de ser, grupos de discussão com o assunto de sempre: críticas à convocação do Dunga, o único brasileiro a não perceber que, num meio-de-campo repleto de Josués e Klébersons, não dava para prescindir de Ganso e Ronaldinho Gaúcho. Agora, está tudo nas mãos – ou nos pés – do filho do Gama. De todos os convocados para o principal setor da equipe, somente Kaká tem poder de criação, apesar de não atravessar, no momento, sua melhor forma física e técnica. De qualquer maneira, vamos torcer!

Mas, para não ficarmos só no lugar-comum, vamos resgatar algumas curiosidades sobre o grandioso evento que está se aproximando:

• alguns jornalistas espanhóis consideram a ida de Ronaldinho Gaúcho para o Milan fundamental para a ascensão do futebol de Lionel Messi, que promete ser a maior estrela da Copa. É que o brasileiro vivia nas baladas, e levava junto boa parte do time catalão...

• há 52 anos, o espírito do jogador brasileiro não era lá muito diferente. Uma das preocupações da comissão técnica na copa da Suécia era isolar os atletas das belas loiras escandinavas. Mas a seleção tinha Mané, famoso por seus dribles... e meses depois nascia Ulf Lindberg.

• no dia 30 de junho, um dia após o Brasil massacrar os donos da casa na final da copa por 5 a 2, um grupo de jogadores passeia pelas ruas geladas de Estocolmo e se depara com o mulato Moacir – meia do Flamengo, que não chegou a jogar nenhuma partida – abraçado com uma loira lindíssima. Antes que alguém dissesse qualquer coisa, ele se adianta, esbaforido: “Não me chamem de Moacir, pelo amor de Deus! Eu sou o Pelé! Eu sou o Pelé!”

• na copa de 78, França e Hungria se enfrentaram na última rodada já eliminadas, num grupo que também tinha Argentina e Itália. No entanto, as duas seleções entram em campo de camisas brancas, e ninguém tinha um segundo uniforme, para desespero do árbitro, o sr. Arnaldo César “a regra é clara” Coelho. Depois de muita polêmica, a França jogou – e venceu por 3x1 – usando um horroroso uniforme listrado em verde e branco do Kimberley, um pequeno clube de Mar del Plata.

• Johann Cruyff, estrela maior da “laranja mecânica” na Alemanha/74, usava uma camisa diferenciada do resto do time. Patrocinado pela Puma, Cruyff se recusou a usar as três listras que caracterizavam a concorrente Adidas. Seu uniforme tinha apenas duas. Se não fosse por esse detalhe, o camisa 14 não teria entrado em campo e levado sua seleção ao vice-campeonato mundial. Puma e Adidas, aliás, nasceram de uma briga entre dois irmãos – Rudi e Adi Dassler – na pequena cidade alemã de Herzogenaurach, há mais de 60 anos. Isso foi em 1947. Onze anos antes, Jesse Owens, o negro norte-americano que humilhou Hitler ganhando quatro medalhas de ouro nas Olimpíadas de Berlim, calçava sapatilhas Gebrüder, a empresa que daria origem às duas gigantes, pertencente aos irmãos Dassler... nazistas ferrenhos.

• Essa última não diz respeito diretamente à copa, mas à maior rivalidade do futebol mundial, Brasil e Argentina. E é bem recente. Quartas de final da Taça Libertadores da América. Com um gol no finalzinho, o Inter de Porto Alegre eliminou o Estudiantes, atual campeão. Como sempre ocorre ao perderem para os “macaquitos”, os portenhos perderam também a compostura. No meio do quebra-pau, Lauro, goleiro reserva do Inter, dá um cascudo no enjoado zagueiro Desábato. Meio atordoado, o grandalhão se vira e mete a porrada no outro goleiro do Inter... o também argentino Abbondanziéri. Grande Lauro!!!

O outro lado do processo seletivo


Chegara o grande dia. Após a distribuição da prova e as explicações de praxe, o silêncio. Éramos sete na sala e até chegarmos ali foram muitas horas de trabalho para todos.

Os quatro da comissão de seleção ralaram muito, até altas horas, elaborando a aferição técnica e as questões comportamentais que, no caso da nossa concorrência, realizar-se-iam num único dia. Uma semana antes, trabalho concluído e todo o material lacrado e guardado a sete chaves. Estávamos orgulhosos do resultado.

Os três candidatos não ficaram atrás em termos de dedicação, e não podia ser diferente. Estudaram muito, a partir das competências essenciais e desejáveis, constantes do documento-base da seleção. Chegar até ali já foi uma grande vitória. Mas o objetivo, lógico, era a tão sonhada promoção.

Tudo caminhava bem, havíamos construído um processo consistente, que avaliaria os candidatos com isenção e critério. Os três analistas, cabeça baixa, concentração total na prova, eram da minha equipe (eu conhecia a competência de cada um, mas precisava avaliá-los apenas por aquele dia), aquele momento era importantíssimo na carreira de cada um deles, mas somente um sairia dali com seu “upgrade”. Os demais sairiam dali com suas expectativas frustradas, e isso me entristecia, eu já sofria por antecipação, afinal, eu sabia o quanto eles batalharam para chegar até ali. Duas horas intermináveis.

Intervalo. No corredor, encontro o Serjão, figuraça, liderança não hierárquica que participava de outro processo, o qual tive o grande prazer de conhecer no curso de entrevista de seleção (aliás, se algum headhunter houvesse presenciado sua atuação na dinâmica de grupo, “contracenando” com o Piana, certamente a Ditec o teria perdido para a Rede Globo). Pois bem, o Serjão, ao saber o motivo do meu baixo astral, fez o diagnóstico:

– É, xará, empatia às vezes machuca...

No quebra-gelo, eu havia ressaltado – e estava sendo absolutamente sincero – que, ao final do dia, todos os sete sairíamos daquela sala melhores, com um grande aprendizado. Acho que foi o que ocorreu. E indo além, acredito que toda a Ditec sai dessa primeira onda do processo seletivo engrandecida.

Aos promovidos, parabéns! Aos que não conseguiram dessa vez, bola pra frente! Vem aí a segunda onda, e muitas outras oportunidades. A Tecnologia sempre estará de portas abertas aos bons profissionais!