domingo, 27 de setembro de 2015

Até tu, Winterkorn?



Um software com um objetivo quase inacreditável.

A Volkswagen simplesmente implementou em mais de 11 milhões de veículos a diesel no mundo inteiro (é possível que, no Brasil, a pickup Amarok esteja entre eles) um dispositivo para manipular os testes de emissão de poluentes, para que seus carros parecessem ser menos prejudiciais ao meio ambiente.

Mais que o prejuízo financeiro imediato – estão previstos gastos de € 6,9 bilhões, cerca de R$ 30 bilhões, apenas em recall – o arranhão provocado na imagem da empresa deve aumentar em muito esse prejuízo.  

Até o Ministério dos Transportes alemão está enroscado, após emitir um estranho comunicado, no qual reconhecia haver uma diferença entre o comportamento dos veículos nos testes e em situações normais de uso, mas negando ter ciência da fraude.

Considerando-se que a Volks acaba de se tornar a maior montadora do mundo – posto ocupado até há pouco pela Toyota – e é a maior empresa da maior economia da Europa, a própria Alemanha deverá sofrer as consequências desse escândalo.

O CEO Martin Winterkorn também afirmou não ter conhecimento da falcatrua – e é  possível que esteja falando a verdade – mas renunciou ao cargo, abrindo caminho para profundas transformações na gigante do setor automobilístico.

Cabe a pergunta: o que é mais nocivo para a Volks nesse episódio? Seus altos executivos conhecerem e permitirem o “gato”? Ou desconhecerem?

Nas duas hipóteses – na segunda, em especial – verifica-se uma grave falha na governança corporativa e no compliance da organização.

No site da Volks consta um documento de Governança Corporativa, no qual a empresa declara pautar suas ações “... dentro dos preceitos de legalidade, probidade e transparência...” e espera de todos os seus stakeholders “... a observância de uma conduta ética em todos os aspectos”.

Na Volkswagen, na Petrobrás, numa empresa pública, privada, grande, pequena, e mesmo em nossa vida pessoal, é básico o alinhamento do discurso à prática.

Bom saber que cada vez mais esse tipo de episódio vem à tona, e que as pessoas e organizações passem a pensar duas vezes antes de fazer certas coisas... mesmo que apenas pelo motivo errado: o medo da punição.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Escravos da Estética





Bem fez Platão, que dissociava o belo do físico. Já no conceito aristotélico, a beleza estava associada à simetria, proporção e perfeição das formas. 

Vivemos uma ditadura da estética. Todos admiramos o belo, mas raramente paramos para refletir acerca de alguns dos seus aspectos não tão nobres.


O preconceito estereotipado a gays, negros, deficientes e diversas outras minorias já virou arroz de festa. E o preconceito ao feio? Normalmente passa despercebido. É comum ouvirmos um comentário despretensioso quando nos deparamos com uma criança loira, bonitinha, passando necessidade.


- Tão linda e nas ruas, pedindo esmola!
 

Como se a miséria fosse uma prerrogativa do feio...
 

Todos buscam o belo; em si próprio e também no outro. O homem fica com a mulher bonita e tola, em detrimento de outra bem mais interessante, porém com menos atributos físicos.
 

Não é de se espantar que assim seja. Voltando à filosofia, Immanuel Kant associava a beleza à sensação de prazer proporcionada pelo objeto observado.
 

Nas relações humanas, a beleza chega a ser negativa, no sentido em que frequentemente orientamos nossas escolhas a aspectos superficiais.
 

Mas há outras abordagens, relativas ao próprio detentor da beleza. O exemplo, obviamente, recai sobre a mulher, que, sem maturidade para lidar com a própria beleza e com o assédio natural dela decorrente, acaba “estragada” pelo excesso de paparicação, pelo amplo leque de possibilidades, pela não-necessidade de conquistar o outro.
 

É aí que a estética constitui-se, de certa forma, um desserviço a quem a possui.
 

Frequentemente, o belo é um ser autocentrado, incapaz de abstrair e enxergar as coisas por uma ótica que não seja a sua – ok, isso ocorre com a maioria das pessoas – e, consequentemente, torna-se alguém extremamente desinteressante.
 

O que se vê hoje é um culto exacerbado ao corpo, à beleza física. Nas academias, o objetivo é corpo bombado e modelado, e não a saúde.
 

A mídia, a TV e o cinema parecem vender cada vez mais a ideia de que o padrão de felicidade passa incondicionalmente pelo culto à estética. E não é bem assim.
 

Ou não deveria ser.

Devemos encontrar mecanismos para nos defender de nós próprios, para que a nossa natureza não acabe conosco, tal qual a parábola do sapo e do escorpião.
 

Uma das ferramentas mais interessantes para o conhecimento das relações interpessoais é a Janela de Johari. Os quadrantes do “eu desconhecido” e, mais ainda, do “eu cego”, são fundamentais para o entendimento do porquê de nossos comportamentos.
 

De qualquer forma, devemos ponderar o quanto estamos dispostos a mergulhar nos nossos “eus”. Afinal, a afirmação mais verdadeira que existe é a de que a ignorância é o segredo da felicidade; o conhecimento, da dor. 

Mas uma dor necessária.

Estética (do grego αισθητική ou aisthésis: percepção, sensação, sensibilidade) é um ramo da filosofia que tem por objetivo o estudo da natureza da beleza e dos fundamentos da arte. Ela estuda o julgamento e a percepção do que é considerado beleza, a produção das emoções pelos fenômenos estéticos, bem como: as diferentes formas de arte e da técnica artística; a ideia de obra de arte e de criação; a relação entre matérias e formas nas artes. Por outro lado, a estética também pode ocupar-se do sublime, ou da privação da beleza, ou seja, o que pode ser considerado feio, ou até mesmo ridículo.
Fonte: Wikipedia

domingo, 12 de julho de 2015

Bits, Bytes e Padrões



Resultado de imagem para bits e bytes que mundo é esseJá falei outras vezes sobre padrões e processos. É um assunto até meio cansativo, mas esses dias tive uma conversa na nossa Fábrica de Software que representa bem a importância do tema no mundo de TI.  Acho até que num curso sobre melhores práticas que ministrei há algum tempo tratamos desse assunto específico.

O assunto era a chamada de sub-rotinas dentro de um programa Cobol. Hipoteticamente, temos um programa XXXP0001 que chama a sub-rotina XXXS999.

Quando chegava um programador novo, geralmente passava-se a seguinte orientação:
- Olha, para chamar o subprograma você deve codificar:
Na Working Storage:
XXXS9999 PIC X(8) VALUE “XXXS9999”.
E na Procedure Division:  
CALL XXXS9999 USING “Variáveis”.
- Uai (geralmente os programadores novos eram mineiros)! Disseram-me que era pra chamar direto, entre aspas (CALL ”XXXS9999” USING “Variáveis”)! E funcionou!
Ou ainda:
- Bah (alguns eram gaúchos)! Eu tenho que chamar vários programas! Porque preciso declarar a variável XXXS9999? É melhor criar uma variável genérica, tipo GDA- SUBROTINA! Funciona, fica mais claro e eu posso reusar a guarda!
Nesse caso, o código na Procedure Division ficaria assim:
MOVE “XXXS9999” TO GDA-SUBROTINA.
CALL GDA-SUBROTINA USING “Variáveis”.
MOVE “XXXS8888” TO GDA-SUBROTINA.
CALL GDA-SUBROTINA USING “Variáveis”.
A resposta, nos dois casos, geralmente dada por quem não tinha ido atrás dos porquês, era sempre a mesma:
- Olha, esse é o padrão do pessoal da Governança de TI. Esses caras de processo vivem inventando moda! É melhor fazer como eles querem e ficar quieto.
Assim, as coisas funcionavam, os caras da MDS (metodologia de desenvolvimento de sistemas) eram os chatos e a vida seguia.
Mas não era bem assim. O padrão estava certo. Aliás, perfeito. A única falha dos “chatos da MDS” era não ter comunicado adequadamente qual o motivo do bendito padrão.
Vamos tentar clarear um pouco:
No caso do mineirim, ao dar o CALL na sub-rotina entre aspas, estamos passando ao processo de compilação (na realidade, de linkedição) a informação de que a chamada é estática, e não dinâmica.
Portanto, o executável resultante do processo de compilação e linkedição do programa XXXP0001 teria incorporado também o XXXS999. Funciona? Sim, funciona, inclusive até mais rápido.
No entanto, no momento em que versionássemos a sub-rotina XXXS9999, apareceria um dos seguintes problemas:

  • Se a XXXS9999 tivesse instruções SQL, o programa XXXP0001 abendaria com o famoso SQLCODE -805 (acho que já falei sobre isso no post “Desmistificando o Bind”), no momento de acessar o banco de dados DB2, por divergência no timestamp do Cobol X999 com o do package de mesmo nome;

  • Se fosse uma sub-rotina em Cobol puro (sem SQL), o problema seria ainda maior. O P0001 continuaria rodando, mas chamando a versão anterior da S9999, embutida no seu executável.

Portanto, ao declarar a variável, o CALL passa a ser dinâmico, com o P0001 chamando a X9999 em tempo de execução, sempre em sua versão mais recente.
Bem, já o caso do gaúcho é um pouco mais sutil, e mesmo “programalistas” experientes não sabem bem o porquê do padrão ser o nome da variável com o mesmo da sub-rotina.
A palavra-chave aqui é rastreabilidade.  Existem ferramentas (na minha empresa temos o X-REF, dentre outras) que buscam a cadeia de chamadas dos módulos. Isso é bastante útil para sabermos qual o impacto de uma alteração em um programa chamado por vários outros.
Essas ferramentas são bem interessantes, mas algumas delas (na realidade quase todas) trabalham por varredura no código-fonte, e não seriam capazes de detectar que o programa P0001 chama o S9999 no “CALL GDA-SUBROTINA”, como ocorre no “CALL XXXS9999”. Na realidade, usamos de um artifício para “enganar” o X-REF, pois ele acha que estamos chamando diretamente o XXXS9999, quando estamos mesmo é chamando uma variável de mesmo nome. Como o seu conteúdo é exatamente o mesmo (ver o VALUE no início do texto), o resultado é a chamada rastreada corretamente.
Bom, o objetivo dessa sopa de bits e bytes era apenas reforçar a importância dos padrões e da comunicação no nosso trabalho.
Um abraço e até a próxima!