domingo, 6 de agosto de 2017

Antifrágil

Há algumas semanas, participei de uma competição esportiva no Banco do Brasil. A empresa na qual trabalho atualmente - uma controlada do BB - participou pela primeira vez do evento, e competi em vários esportes, como sempre ocorreu quando eu ainda era do Banco. 

O evento fechou com chave de ouro, no Mané Garrincha. Muito bom vivenciar essa experiência tão diferente! Observar o cuidado da equipe organizadora em cada detalhe, ver seu nome no telão do estádio, deparar-se com seu uniforme personalizado num vestiário por onde já passaram monstros sagrados do futebol, jogar uma partida naquele gramado e, finalmente, confraternizar-se com tantos amigos na cerimônia de encerramento, realmente não teve preço.

Ganhei umas medalhinhas aqui e ali. No xadrez, especificamente, disputei o ouro até o final. Mas falhei no momento decisivo, nas duas modalidades. Até aí nada de mais, pois meus adversários eram melhores do que eu.

Mas vamos supor que o resultado valesse alguma coisa – e é claro que não valia, pois tudo era uma grande festa.

No esporte, no trabalho, na vida, todos passamos por situações de fracasso. Talvez o termo seja um pouco forte, mas fiquemos com esse mesmo.

Como superar a derrota? Muitos falam em resiliência, cujo símbolo maior é o bambu, que verga nos momentos difíceis, mas sempre retorna à sua condição original, em razão de uma raiz forte e de sua flexibilidade.

Mesmo nas condições mais adversas, nas grandes perdas, precisamos a todo custo resistir e seguir em frente. Essencialmente pelas pessoas que nos amam, pelas que amamos, por nós mesmos, e por muitas outras razões, que variam de indivíduo para indivíduo.

Nos últimos anos surgiu o conceito de antifragilidade, um neologismo que representa a resiliência adicionada de um algo mais. Ou seja, na adversidade, não só resistimos, mas crescemos e nos tornamos melhores.

O antifrágil se tornou um modismo entre palestrantes e consultores, mas não traz nada de novo. É fácil constatar que muita gente amadurece e evolui a partir de experiências negativas. Também por isso, pessoas que não passaram por grandes dificuldades tendem a se abalar por quaisquer pequenas frustrações. E não adianta muito contraargumentar. Para elas, o seu problema é verdadeiramente o maior que existe.

Estar atento a essas questões, relativizar os problemas, olhar pra si, mas também olhar em volta e oferecer ajudar, por menor que seja, contribui para percebermos que somos apenas uma peça na grande engrenagem da vida. 

domingo, 4 de junho de 2017

O Tempo


Esses dias, num desses grupos de família no whatsapp que todos têm hoje em dia, um sobrinho/afilhado muito dinâmico e realizador saiu-se com essa:

“Tio Sérgio, a inércia e a mediocridade são extremamente tentadoras no curto prazo, mas absurdamente frustrantes no longo”.

Como vivemos num mundo de excesso de informação – o que resulta, paradoxalmente, numa falta de informação, dada a dificuldade para filtrar aquilo que é relevante – essa afirmação me passou meio despercebida. Mas, depois de certo tempo, comecei a refletir um pouco sobre ela e tomei consciência do quanto aquilo era verdadeiro para mim, assim como para muitas pessoas próximas e queridas, com as quais eu me preocupo: gente da minha família, do meu círculo de amigos, colegas de trabalho...

Nos dias de hoje é muito raro parar para refletir, rever nossas atitudes, corrigir desvios, entender o porquê de nem tudo acontecer conforme imaginamos. Achamos injustas certas coisas, procuramos culpados externos, terceirizamos nosso destino.

É claro que injustiças acontecem, mas, se fizermos a nossa parte, certamente elas tendem a ser cada vez mais raras.

Jogos, redes sociais, farra com os amigos... Tudo isso é bom e saudável. Mas tem seu tempo. O problema é quando alguns extrapolam e fazem disso sua vida.

Quase todo mundo faz coisas boas. Só que muitos o fazem de forma pontual, e, ao não receber recompensa imediata, se frustra. Precisamos perseverar, fazer o melhor no dia a dia, de forma contínua.

Pessoas da minha faixa etária já gastaram uma boa parcela do seu “longo prazo”. Mas, mesmo assim, nunca é tarde para repensar com isenção as nossas atitudes – o que não é muito fácil. Há alguns anos tento concluir algumas pendências e estou sempre procrastinando. Uma dessas pendências é um livro que comecei a escrever há tempos e sempre encontro uma desculpa para não terminar. A principal delas é a falta de tempo. Isso nada mais é do que uma “bengala”, algo em que nos escoramos para tirar o foco daquilo que verdadeiramente nos impede de seguir adiante, que certamente demanda alguma ação trabalhosa e desgastante (caso contrário já teríamos superado). O que chamamos de falta de tempo normalmente é falta de priorização, de organização mental, de atitude.

Perceber isso e, principalmente, agir, é um processo de amadurecimento pelo qual todos precisamos passar. E quanto mais cedo isso ocorrer, mais teremos tempo para usufruir dos benefícios.

Uma boa estratégia para chegar lá é nos espelharmos nos exemplos, nos bons exemplos. E pararmos de achar que tudo o que fazemos – ou mesmo o que deixamos de fazer – de errado é justificável, enquanto condenamos outros que agem da mesma forma.

O tempo passa de forma inexorável. E pode ser cruel, se, ao olharmos para trás, percebermos que não fizemos o que é certo.

Como alguém já falou, o momento mais importante de nossas vidas é o agora, e o dia certo para amar, acreditar, fazer e, principalmente, viver, é hoje.

sábado, 15 de abril de 2017

Management Breaks United


Muitos falam que brasileiro tem complexo de vira-lata, termo criado por Nelson Rodrigues que representa nosso eterno sentimento de inferioridade em relação a outros povos.

Os eventos dos últimos meses relacionados à Operação Lava-Jato demonstram que esse complexo tem, de certo modo, sua razão de ser.

Alguns enxergam no povo estadunidense um exemplo a seguir. Obviamente, nossos irmãos do norte têm muitas qualidades, caso contrário não seriam a maior potência mundial durante tanto tempo.

Mas nem tudo é perfeito por lá. Aliás, essa supremacia econômica faz com que o americano médio seja meio embotado, voltado para si e alheio ao que acontece à sua volta.

Há alguns anos, durante um passeio em Buenos Aires num daqueles ônibus que circundam a capital para apresentar seus pontos turísticos, a guia pegou o microfone e pediu que cada passageiro se identificasse e dissesse qual seu país de origem.

Era uma miscelânea: Uruguai, Costa Rica, Ucrânia, Japão, etc.

Ao chegar a minha vez, fui breve:

- Sérgio, Brasil.

O próximo era um americano com um imenso chapéu de caubói:

- Bruce, Texas!

Peguei o microfone e não titubeei:

- Desculpe, eu não tinha entendido a pergunta. Sou o Sérgio, do Ceará!

Obviamente, além dos brasileiros presentes, ninguém entendeu bem minha retificação. Mas a intenção era essa mesmo.

O fato é que o americano adora mesmo o próprio umbigo. Até por isso, apostei com amigos que Trump levaria a eleição presidencial, como levou. As pesquisas apontavam uma vitória de Hillary com relativa folga, mas minha leitura foi de que muitos tinham vergonha de declarar seu voto ao magnata, porém enxergavam nele a melhor alternativa para cuidar dos seus interesses.

O mundo está cada vez mais conectado, e nem chega a ser mais um diferencial – e sim obrigação – estarmos ligados ao que acontece à nossa volta e, principalmente, percebermos a extensão das nossas atitudes.

Escrevo isso por conta do inacreditável episódio ocorrido no avião da United, no qual um passageiro – um médico vietnamita (e não chinês, como divulgado inicialmente) de 69 anos! – foi violentamente retirado da aeronave.

Sempre a United Airlines, mestre em gafes globais. Há oito anos, ao não dar atenção à reclamação sobre um violão despachado que estragou, ela alavancou a carreira do músico canadense Dave Carroll, cujo hit United Breaks Guitars  (a United quebra violões) viralizou.

O episódio do último dia 9 de abril foi ainda mais desastroso. Dois dias após, a companhia perdeu a singela cifra de 1 bilhão de dólares em valor de mercado.

Ainda mais inacreditável foi o CEO, no âmbito interno, criticar a postura do passageiro e elogiar a atitude dos seus funcionários. Na realidade, quem retirou o passageiro de forma tão truculenta não foi nem a United, mas a polícia aeroportuária, que foi chamada a intervir.

Não importa. Para a opinião pública, foi a United.

Num mundo cada vez mais tenso, as empresas não podem se dar ao luxo de permitir episódios dessa natureza.

Só há uma forma de colocar ordem na casa.

Gestão.

E não vamos nem falar aqui de ética ou moral.

Isso nada mais é do que uma obrigação de qualquer gestor. 

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

10 mil horas


Alguns autores – em especial o britânico Malcolm Gladwell, no seu best-seller Outliers, de 2008 – fazem referência à famosa regra das 10 mil horas, que seria o tempo de dedicação necessário para alguém ficar realmente bom em alguma coisa. Talvez haja um pouco de exagero nisso, mas não pude deixar de pensar no assunto quando da adesão de mais de 9 mil colegas ao plano de aposentadoria incentivada da empresa.
Para se ter uma ideia da dimensão desse número mágico, 10 mil horas representariam cerca de 5 anos ininterruptos de trabalho e dedicação.
Não é pouco.
Mas pode haver um paradoxo nessa afirmação. Afinal, o mundo está cada vez mais imediatista e dinâmico. Precisamos nos reinventar a todo instante e aprender coisas novas, pois muitos dos conhecimentos que levamos anos para absorver deixam de ser relevantes de uma hora pra outra.
De qualquer forma, boa parte fica, e talvez o que mais importa seja exatamente a capacidade de nos reposicionarmos frente a uma nova realidade. A visão holística, a resiliência e a leitura de cenários são características cada vez mais presentes e necessárias para um profissional nos tempos atuais.
Isso sempre me remete a uma palavrinha que resume praticamente tudo isso: Atitude. É não “terceirizar” o seu futuro, não retirar de si a responsabilidade do seu sucesso e, principalmente, do seu fracasso. É pagar suas dívidas antes de discursar sobre a dívida externa do país. E por aí vai...
Fiz essa rápida digressão sobre atitude, mas o meu propósito era falar sobre essa geração de profissionais que acaba de encerrar um ciclo profissional. Pessoas que ajudaram a construir a história da Tecnologia do BB, uma referência no país.
Um dos grandes segredos – dentre tantos outros – para essa grande engrenagem que é a TI do Banco continuar rodando é a renovação dos profissionais que a compõem.
A empresa precisa ter sempre novos profissionais, outros com um certo tempo de casa e também uma boa leva de “velhinhos”. É essa sinergia entre o novo e o tradicional que proporciona a troca de experiências, a inovação e, ao mesmo tempo, a estabilidade.
A sucessão é um dos temas que mais preocupa a estratégia das grandes organizações. Os que estão ingressando hoje serão os velhinhos de amanhã.
E nesse movimento cíclico da empresa – similar ao da vida –, chega o momento de nos despedirmos dos colegas que estão passando o bastão. A eles, a minha admiração, o meu respeito e o meu muito obrigado pela convivência e pelo aprendizado.
Eles deixam a empresa melhor do que encontraram, e agora certamente irão assumir novos desafios em suas vidas.
E irão superá-los, com a competência de sempre.

A todos, saúde e muito sucesso!