Esses dias, lembrei-me de uma palestra
de baixíssimo nível (tecnicamente falando, bem entendido) proferida por um
professor do MBA. Ao terminar e perguntar se alguém tinha alguma dúvida, o
mestre ficou sem ação, quando uma colega baiana, perguntou com seu sotaque
arrastado:
- Professooor, tô só com uma
dúvida. A pronúncia certa é bit ou é byte?...
Bem, hoje, fiquem tranqüilos. Não
vou falar de bits, nem de bytes.
Ao ler esse texto (como quase todo
texto, né?) dá vontade de parar na metade, ou antes disso, pois fala de uma coisa meio batida. Mas ao final, prometo, mudo um pouco o foco (o “algo mais” do título). Por favor, respire fundo, faça um esforço e vá até o
final.
No trabalho ou mesmo na vida
pessoal é muito legal quando nos depararmos com uma ferramenta que nos dê
produtividade, que nos permita fazer o que fazíamos antes muito mais rápido, com
mais qualidade, mais controle, que possamos, no dia seguinte, dar continuidade
à tarefa de ontem com mais facilidade, etc.
Mas algumas coisas sempre me preocuparam
em relação a isso: o excessivo peso que atribuímos às ferramentas, ou, mais
especificamente, à falta delas. É muito freqüente ouvirmos alguém falar que não
está realizando adequadamente suas atividades pela falta do software adequado.
Às vezes, mas somente às vezes,
isso é verdade. Em determinadas situações ocorre até o contrário: existir mais
de uma solução que atenda àquele propósito. Mas vamos logo nos livrando do abacaxi. Falta a tal da ferramenta. Aí, de forma precipitada, baseado apenas na choradeira, sem uma análise
mais acurada sobre a existência de algo similar que já atenda a necessidade, o setor de compras parte direto para a aquisição.
Falemos, então, de algo
precedente: o processo. Sem querer falar o que todo mundo sabe (mas já falando) a academia se refere ao tripé Pessoas, Processos e
Ferramentas, nessa ordem. Precisamos declarar qual o processo necessário, para
só então adquirirmos (ou desenvolvermos) a solução de TI que o suporta.
Em se tratando de uma commodity, algo que não vai gerar um diferencial estratégico à
organização, podemos - e devemos - fazer algo bem mais racional: adquirir uma solução já consolidada e adotar o
processo validado e sedimentado pelo mercado, abrindo mão de um paradigma arraigado
internamente, que muitas vezes se baseia numa realidade desatualizada,
que não mais se mostra efetiva hoje.
O que estou dizendo não é nenhuma
novidade (como, aliás, quase tudo na vida e no trabalho).
De qualquer forma, a
quase totalidade dos problemas organizacionais não está nas ferramentas e nem
mesmo nos processos: está na ATITUDE!
O que mais observamos em
reuniões, em correspondências corporativas ou mesmo nas conversas informais
durante o cafezinho ou nos corredores, é a tendência natural, inerente ao ser
humano, a atribuir os problemas enfrentados a algum fator externo.
EU estou fazendo a coisa certa,
mas o processo está ruim. Ah, tá bom? Então é a ferramenta. Ok, a ferramenta também está lá. Então é o colega ao lado que está me boicotando; ou o sistema vive caindo; ou a instrução normativa não está muito clara; ou parece que meu chefe não gosta de mim; ou
a empresa não me valoriza; ou a Dilma, ou o Obama, ou os políticos, ou quem quer que seja, não está fazendo a sua parte. Algo precisa mudar,
para que aquilo que eu já venho fazendo corretamente funcione.
Ou seja, a culpa está sempre em
alguma instância alheia a mim, pois dessa forma posso permanecer em minha zona
de conforto e não fazer nada para resolver.
Costumo dizer que temos solução para a dívida externa do Brasil ou para a corrupção dos políticos. Agora, sair do cheque especial ou não comprar CD pirata, isso já outra história...
Precisamos, a todo instante, refletir
profundamente sobre nossas atitudes. Quem tem um mínimo de autocrítica e discernimento, sabe
o quão difícil é se distanciar de uma situação o suficiente a ponto de enxergar a si próprio no mesmo nível dos
demais. Talvez isso seja a tal da empatia de que tanto falam...
Por mais que estejamos fazendo tudo certo, por mais que o problema esteja em outra instância, se eu me dispuser a resolvê-lo, com certeza vai existir algo na minha esfera de atuação em que minha contribuição será bem-vinda.
Vamos tentar?