domingo, 6 de janeiro de 2013

Sobre processos, ferramentas... e algo mais






Esses dias, lembrei-me de uma palestra de baixíssimo nível (tecnicamente falando, bem entendido) proferida por um professor do MBA. Ao terminar e perguntar se alguém tinha alguma dúvida, o mestre ficou sem ação, quando uma colega baiana, perguntou com seu sotaque arrastado:

- Professooor, tô só com uma dúvida. A pronúncia certa é bit ou é byte?...

Bem, hoje, fiquem tranqüilos. Não vou falar de bits, nem de bytes.

Ao ler esse texto (como quase todo texto, né?) dá vontade de parar na metade, ou antes disso, pois fala de uma coisa meio batida. Mas ao final, prometo, mudo um pouco o foco (o “algo mais” do título). Por favor, respire fundo, faça um esforço e vá até o final. 

No trabalho ou mesmo na vida pessoal é muito legal quando nos depararmos com uma ferramenta que nos dê produtividade, que nos permita fazer o que fazíamos antes muito mais rápido, com mais qualidade, mais controle, que possamos, no dia seguinte, dar continuidade à tarefa de ontem com mais facilidade, etc.

Mas algumas coisas sempre me preocuparam em relação a isso: o excessivo peso que atribuímos às ferramentas, ou, mais especificamente, à falta delas. É muito freqüente ouvirmos alguém falar que não está realizando adequadamente suas atividades pela falta do software adequado.

Às vezes, mas somente às vezes, isso é verdade. Em determinadas situações ocorre até o contrário: existir mais de uma solução que atenda àquele propósito. Mas vamos logo nos livrando do abacaxi. Falta a tal da ferramenta. Aí, de forma precipitada, baseado apenas na choradeira, sem uma análise mais acurada sobre a existência de algo similar que já atenda a necessidade, o setor de compras parte direto para a aquisição.

Falemos, então, de algo precedente: o processo. Sem querer falar o que todo mundo sabe (mas já falando) a academia se refere ao tripé Pessoas, Processos e Ferramentas, nessa ordem. Precisamos declarar qual o processo necessário, para só então adquirirmos (ou desenvolvermos) a solução de TI que o suporta. 

Em se tratando de uma commodity, algo que não vai gerar um diferencial estratégico à organização, podemos - e devemos - fazer algo bem mais racional: adquirir uma solução já consolidada e adotar o processo validado e sedimentado pelo mercado, abrindo mão de um paradigma arraigado internamente, que muitas vezes se baseia numa realidade desatualizada, que não mais se mostra efetiva hoje. 

O que estou dizendo não é nenhuma novidade (como, aliás, quase tudo na vida e no trabalho). 

De qualquer forma, a quase totalidade dos problemas organizacionais não está nas ferramentas e nem mesmo nos processos: está na ATITUDE!

O que mais observamos em reuniões, em correspondências corporativas ou mesmo nas conversas informais durante o cafezinho ou nos corredores, é a tendência natural, inerente ao ser humano, a atribuir os problemas enfrentados a algum fator externo.

EU estou fazendo a coisa certa, mas o processo está ruim. Ah, tá bom? Então é a ferramenta. Ok, a ferramenta também está lá. Então é o colega ao lado que está me boicotando; ou o sistema vive caindo; ou a instrução normativa não está muito clara; ou parece que meu chefe não gosta de mim; ou a empresa não me valoriza; ou a Dilma, ou o Obama, ou os políticos, ou  quem quer que seja, não está fazendo a sua parte. Algo precisa mudar, para que aquilo que eu já venho fazendo corretamente funcione.

Ou seja, a culpa está sempre em alguma instância alheia a mim, pois dessa forma posso permanecer em minha zona de conforto e não fazer nada para resolver.

Costumo dizer que temos solução para a dívida externa do Brasil ou para a corrupção dos políticos. Agora, sair do cheque especial ou não comprar CD pirata, isso já outra história...

Precisamos, a todo instante, refletir profundamente sobre nossas atitudes. Quem tem um mínimo de autocrítica e discernimento, sabe o quão difícil é se distanciar de uma situação o suficiente a ponto de  enxergar a si próprio no mesmo nível dos demais. Talvez isso seja a tal da empatia de que tanto falam...

Por mais que estejamos fazendo tudo certo, por mais que o problema esteja em outra instância, se eu me dispuser a resolvê-lo, com certeza vai existir algo na minha esfera de atuação em que minha contribuição será bem-vinda.   

Vamos tentar?