As
notícias do naufrágio do transatlântico Costa Concórdia, ocorrido na Itália no
último dia 13 de janeiro, me fazem recordar do petroleiro encalhado em
Fortaleza desde a década de 80.
O
Mara Hope tinha mais de 150 metros de comprimento – quase a metade do gigante
italiano, mas ainda assim imenso – e sua história bem que poderia ser uma peça
de ficção. De origem espanhola, sangue quente como todo latino, em 1983 ele
ardeu em chamas por quase quatro dias ininterruptos, num porto norte-americano.
Apesar da magnitude do incêndio, não houve vítimas.
Em
1985 ele estava sendo transportado para a Ásia – segundo alguns para ser
reparado; noutra versão, ele fora vendido como sucata para uma empresa de
Taiwan – quando, ao chegar próximo à costa brasileira, a embarcação que o
rebocava apresentou problemas mecânicos, sendo obrigada a fundear o Mara Hope no
Porto do Mucuripe até a realização dos reparos.
No
meio da noite, o mar revolto fez com que o petroleiro se desprendesse das
amarras e vagasse em silêncio pelo mar de Fortaleza, como que à procura do seu
protetor. Após ficar à deriva por cerca de 2 km, o Mara Hope encalhou,
justamente em frente ao estaleiro no qual se encontrava o seu rebocador.
Seus
proprietários resignaram-se com sua decisão de fixar residência definitiva na
capital cearense, e deram início a uma complicada operação de desmanche,
buscando minimizar o imenso prejuízo, na venda de peças avulsas, a maioria como
ferro velho. Vândalos e piratas do litoral contribuíram nessa tarefa.
Hoje,
27 anos após o encalhe, o Mara Hope ainda agoniza na praia de Iracema. Na maré
baixa ainda se avistam alguns contornos do navio, totalmente corroído pela
maresia. Apesar de ser apenas uma sombra do que já foi, a embarcação é um
importante ponto turístico da capital cearense, freqüentado por mergulhadores, barcos
e até mesmo corajosos nadadores que se aventuram mar adentro, em águas
geralmente escuras, dada a proximidade com a costa.
Temos
muito em comum. Somos quase da mesma idade, ele chegou a Fortaleza no dia do
meu aniversário, já não temos o mesmo viço de outrora, o tempo tem sido implacável
conosco. Compartilhamos um jeito solitário e silencioso de enfrentar
dificuldades.
Na
minha próxima viagem ao Ceará vou dar uma passadinha na Ponte Metálica num fim
de tarde qualquer para rever meu velho e enferrujado amigo.