Quando eu comecei a desenvolver software, lá pelos anos de ... Bem, deixa pra lá quando foi isso...
(você percebe que está ficando velho quando algumas pessoas acham que você
existe desde a criação do mundo, junto com o Sílvio Santos e o Sarney...)
Bem,
voltando ao assunto, nessa época, eu via o pessoal que trabalhava com processos
e normatização como burocratas, indivíduos sem nenhuma conexão com o mundo
real, que se preocupavam apenas em aplicar seus conhecimentos acadêmicos.
Santa
ignorância: Com o passar do tempo, ao aprender um pouquinho mais e enxergar a
TI de uma forma um pouco mais holística, comecei a entender a importância das
normas e dos padrões.
Gerir
um parque de TI como o nosso não é uma tarefa fácil. Se, num determinado
momento, a Ditec “fechasse pra balanço” e passasse um tempo sem atender nenhuma
demanda da área de negócios (algo impensável no mundo real, obviamente), ainda
assim seria necessário um razoável contingente de pessoas apenas para manter
tudo funcionando, contingente esse muito maior se não tivéssemos uma governança
estruturando e organizando a casa.
Imagine
como seria nosso legado de mais de 1000 sistemas desenvolvidos conforme a
criatividade de cada um. Um simples B37 (abend
por falta de espaço, se não me engano) seria um grande desafio para o analista
da madrugada resolver.
Assim
é que alguns problemas são triviais simplesmente porque temos padrões de
codificação, de compilação, de bibliotecas, de procedures, de documentação, de
procedimentos, de nomenclaturas, etc.
Portanto,
na minha simplória ignorância (o segredo da felicidade, como costumo
afirmar...), eu queria era liberdade para construir os sistemas do jeito que
bem entendesse.
No
mundo tecnológico, existe uma certa dicotomia entre desenvolvedores e
normatizadores. Uns acham que os outros definem coisas não aplicáveis ao mundo
real; os outros acham que os “uns” são meio insubordinados, que não leem
instruções e fazem as coisas erradas de forma proposital.
Os
dois lados estão certos – e errados. Precisamos exercer um pouco mais uma certa
palavrinha muito em voga ultimamente: empatia. Colocar-se na situação do outro
e entender o porquê dele não fazer aquilo do jeito que queremos.
Embora
tenhamos profissionais com características claramente de desenvolvedores ou de
normatizadores, é bastante saudável que, periodicamente, as pessoas vivenciem o
outro lado, e percebam que somente com retroalimentação de parte a parte as
normas se tornam facilitadoras da execução, bem como contribuem para mitigar
riscos.
Peter
Drucker, austríaco naturalizado americano, considerado o guru da administração,
já dizia a algumas décadas que 60% dos problemas organizacionais decorrem de
problemas de comunicação.
Todo
mundo sabe – mas às vezes esquece – que processos e padrões não são um fim em si
mesmo. Cobit, Itil e PMBOK, pra ficar somente nesses três, são frameworks excelentes, mas declaram,
salvo melhor juízo, cerca de 110 processos.
Implementações
segregadas dessas boas práticas, sem levar em conta o contexto das
organizações, certamente levam a redundâncias e overhead.
Já
vi o PMBOK ser acusado - injustamente - de atrasar os projetos. Como um
conjunto de boas práticas, seu objetivo é exatamente racionalizar sua gestão,
mantendo-o sob controle do líder.
Gosto
muito de uma frase que já ouvi mais de uma vez em eventos de TI: Framework – adote e adapte.
Padrões
e normativos são diretrizes e nunca exaurem todas as possibilidades,
notadamente num meio tão complexo como o nosso.
Um
abraço e até a próxima.