segunda-feira, 4 de maio de 2015

Todos do mesmo lado

Quando eu comecei a desenvolver software, lá pelos anos de ... Bem, deixa pra lá quando foi isso... (você percebe que está ficando velho quando algumas pessoas acham que você existe desde a criação do mundo, junto com o Sílvio Santos e o Sarney...)

Bem, voltando ao assunto, nessa época, eu via o pessoal que trabalhava com processos e normatização como burocratas, indivíduos sem nenhuma conexão com o mundo real, que se preocupavam apenas em aplicar seus conhecimentos acadêmicos.

Santa ignorância: Com o passar do tempo, ao aprender um pouquinho mais e enxergar a TI de uma forma um pouco mais holística, comecei a entender a importância das normas e dos padrões.

Gerir um parque de TI como o nosso não é uma tarefa fácil. Se, num determinado momento, a Ditec “fechasse pra balanço” e passasse um tempo sem atender nenhuma demanda da área de negócios (algo impensável no mundo real, obviamente), ainda assim seria necessário um razoável contingente de pessoas apenas para manter tudo funcionando, contingente esse muito maior se não tivéssemos uma governança estruturando e organizando a casa.

Imagine como seria nosso legado de mais de 1000 sistemas desenvolvidos conforme a criatividade de cada um. Um simples B37 (abend por falta de espaço, se não me engano) seria um grande desafio para o analista da madrugada resolver.

Assim é que alguns problemas são triviais simplesmente porque temos padrões de codificação, de compilação, de bibliotecas, de procedures, de documentação, de procedimentos, de nomenclaturas, etc.

Portanto, na minha simplória ignorância (o segredo da felicidade, como costumo afirmar...), eu queria era liberdade para construir os sistemas do jeito que bem entendesse.

No mundo tecnológico, existe uma certa dicotomia entre desenvolvedores e normatizadores. Uns acham que os outros definem coisas não aplicáveis ao mundo real; os outros acham que os “uns” são meio insubordinados, que não leem instruções e fazem as coisas erradas de forma proposital.

Os dois lados estão certos – e errados. Precisamos exercer um pouco mais uma certa palavrinha muito em voga ultimamente: empatia. Colocar-se na situação do outro e entender o porquê dele não fazer aquilo do jeito que queremos.

Embora tenhamos profissionais com características claramente de desenvolvedores ou de normatizadores, é bastante saudável que, periodicamente, as pessoas vivenciem o outro lado, e percebam que somente com retroalimentação de parte a parte as normas se tornam facilitadoras da execução, bem como contribuem para mitigar riscos.

Peter Drucker, austríaco naturalizado americano, considerado o guru da administração, já dizia a algumas décadas que 60% dos problemas organizacionais decorrem de problemas de comunicação.

Todo mundo sabe – mas às vezes esquece – que processos e padrões não são um fim em si mesmo. Cobit, Itil e PMBOK, pra ficar somente nesses três, são frameworks excelentes, mas declaram, salvo melhor juízo, cerca de 110 processos.

Implementações segregadas dessas boas práticas, sem levar em conta o contexto das organizações, certamente levam a redundâncias e overhead.

Já vi o PMBOK ser acusado - injustamente - de atrasar os projetos. Como um conjunto de boas práticas, seu objetivo é exatamente racionalizar sua gestão, mantendo-o sob controle do líder.

Gosto muito de uma frase que já ouvi mais de uma vez em eventos de TI: Framework – adote e adapte.

Padrões e normativos são diretrizes e nunca exaurem todas as possibilidades, notadamente num meio tão complexo como o nosso. 

Um abraço e até a próxima.