Tanto faz se é cereja ou
jabuticaba; se já foi reproduzido mil vezes na rede; se o autor é Ricardo Gondim, Rubem Alves, Mário de Andrade ou – o que
me parece mais provável – seu xará angolano, Mário Coelho Pinto de Andrade,
poeta e escritor.
O fato é que o texto O Valioso Tempo dos Maduros me diz muito,
e quanto mais cedo começarmos a “roer o caroço”, mais sorveremos da vida o
essencial. No final desse post
reproduzo uma das versões que circulam pela internet.
Dia desses, eu estava numa festa bem
divertida. Aliás, surpreendentemente divertida.
Mas eis que o telefone tocou uma
vez, tocou duas, três, e era sempre trabalho, abacaxis a descascar, o que,
aliás, tem sido uma constante de uns tempos pra cá.
A barulheira me empurrou pra
longe da diversão. Depois de dar os devidos encaminhamentos aos ananás (que
dizem ser mais ácidos que os abacaxis), sentei numa sombra e ali
permaneci sozinho por um bom tempo, exaurido, sem disposição para voltar à
comemoração.
Acho que passou-se mais ou menos
uma hora. Eu, sozinho, a divagar como a vida estava difícil, e como eu
certamente contribuíra para isso, no mínimo pela minha baixa resiliência, por
não transigir de alguns valores que considero inegociáveis ou, quem sabe, por
incompetência mesmo.
Quando a festa caminhava para o fim e aquele monte de gente começava a dispersar, alguém chegou e sentou ao meu lado. Depois mais um, e outro, e mais outro. Não sei exatamente o que motivou aquele movimento: amizade, pena, curiosidade, o lugar agradável... O mais provável é que não tenha havido motivo nenhum.
De repente, éramos uns oito ou
dez, e aquela turma conseguiu levantar meu astral. Como o local precisava fechar, terminamos o dia num
barzinho, tomei umas e outras e mais algumas - o que há muito não fazia - e voltei pra casa refletindo:
num mundo onde sua história de vida não vale muita coisa, onde as pessoas relativizam
conceitos básicos como respeito, ética, seriedade, bom senso e discernimento
sobre o que é certo e o que é errado, aquele gesto gratuito e descompromissado
de solidariedade representou muito pra mim.
Aquele tempo “perdido” foi, pra mim, o tempo valioso citado no texto a seguir:
“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para
a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de jabuticabas.
As primeiras, ele chupou displicentemente, mas percebendo que faltam
poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando
seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos
inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que, apesar da
idade cronológica, são imaturas.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigam pelo majestoso cargo de
secretário-geral do coral.
As pessoas não debatem conteúdos, apenas rótulos.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos. Quero a essência. Minha
alma tem pressa.
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,
muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com
triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade; caminhar
perto de coisas e pessoas de verdade.
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial.”