A Volkswagen simplesmente
implementou em mais de 11 milhões de veículos a diesel no mundo inteiro (é
possível que, no Brasil, a pickup Amarok esteja entre eles) um dispositivo para
manipular os testes de emissão de poluentes, para que seus carros parecessem
ser menos prejudiciais ao meio ambiente.
Mais que o prejuízo
financeiro imediato – estão previstos gastos de € 6,9 bilhões, cerca de R$ 30 bilhões,
apenas em recall – o arranhão
provocado na imagem da empresa deve aumentar em muito esse prejuízo.
Até o Ministério dos
Transportes alemão está enroscado, após emitir um estranho comunicado, no qual
reconhecia haver uma diferença entre o comportamento dos veículos nos testes e
em situações normais de uso, mas negando ter ciência da fraude.
Considerando-se que a Volks acaba
de se tornar a maior montadora do mundo – posto ocupado até há pouco pela
Toyota – e é a maior empresa da maior economia da Europa, a própria
Alemanha deverá sofrer as consequências desse escândalo.
O CEO Martin Winterkorn também
afirmou não ter conhecimento da falcatrua – e é possível que esteja falando
a verdade – mas renunciou ao cargo, abrindo caminho para profundas transformações
na gigante do setor automobilístico.
Cabe a pergunta: o que é mais
nocivo para a Volks nesse episódio? Seus altos executivos conhecerem e
permitirem o “gato”? Ou desconhecerem?
Nas duas hipóteses – na
segunda, em especial – verifica-se uma grave falha na governança corporativa e
no compliance da organização.
No site da Volks consta um
documento de Governança Corporativa, no qual a empresa declara pautar suas
ações “... dentro dos preceitos de
legalidade, probidade e transparência...” e espera de todos os seus stakeholders “... a observância de uma conduta ética em todos os aspectos”.
Na Volkswagen, na Petrobrás, numa empresa pública,
privada, grande, pequena, e mesmo em nossa vida pessoal, é básico o alinhamento
do discurso à prática.
Bom saber que cada vez mais esse tipo de episódio
vem à tona, e que as pessoas e organizações passem a pensar duas vezes antes de
fazer certas coisas... mesmo que apenas pelo motivo errado: o medo da punição.