quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Mara Hope


As notícias do naufrágio do transatlântico Costa Concórdia, ocorrido na Itália no último dia 13 de janeiro, me fazem recordar do petroleiro encalhado em Fortaleza desde a década de 80.

O Mara Hope tinha mais de 150 metros de comprimento – quase a metade do gigante italiano, mas ainda assim imenso – e sua história bem que poderia ser uma peça de ficção. De origem espanhola, sangue quente como todo latino, em 1983 ele ardeu em chamas por quase quatro dias ininterruptos, num porto norte-americano. Apesar da magnitude do incêndio, não houve vítimas.

Em 1985 ele estava sendo transportado para a Ásia – segundo alguns para ser reparado; noutra versão, ele fora vendido como sucata para uma empresa de Taiwan – quando, ao chegar próximo à costa brasileira, a embarcação que o rebocava apresentou problemas mecânicos, sendo obrigada a fundear o Mara Hope no Porto do Mucuripe até a realização dos reparos.

No meio da noite, o mar revolto fez com que o petroleiro se desprendesse das amarras e vagasse em silêncio pelo mar de Fortaleza, como que à procura do seu protetor. Após ficar à deriva por cerca de 2 km, o Mara Hope encalhou, justamente em frente ao estaleiro no qual se encontrava o seu rebocador.  

Seus proprietários resignaram-se com sua decisão de fixar residência definitiva na capital cearense, e deram início a uma complicada operação de desmanche, buscando minimizar o imenso prejuízo, na venda de peças avulsas, a maioria como ferro velho. Vândalos e piratas do litoral contribuíram nessa tarefa.

Hoje, 27 anos após o encalhe, o Mara Hope ainda agoniza na praia de Iracema. Na maré baixa ainda se avistam alguns contornos do navio, totalmente corroído pela maresia. Apesar de ser apenas uma sombra do que já foi, a embarcação é um importante ponto turístico da capital cearense, freqüentado por mergulhadores, barcos e até mesmo corajosos nadadores que se aventuram mar adentro, em águas geralmente escuras, dada a proximidade com a costa.     

Temos muito em comum. Somos quase da mesma idade, ele chegou a Fortaleza no dia do meu aniversário, já não temos o mesmo viço de outrora, o tempo tem sido implacável conosco. Compartilhamos um jeito solitário e silencioso de enfrentar dificuldades.

Na minha próxima viagem ao Ceará vou dar uma passadinha na Ponte Metálica num fim de tarde qualquer para rever meu velho e enferrujado amigo.  

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