sábado, 1 de setembro de 2012

Pé-trocado


Recentemente me disseram que eu ando muito sério nas minhas postagens, que eu deveria escrever algo mais leve, como em outros tempos. Então vamos lá.

Essa um amigo que está morando no exterior certamente vai lembrar, pois de vez em quando não perde a oportunidade de contar para alguém.

Certo dia, a lâmpada que ficava logo acima da minha estação de trabalho estava sem acender e esse meu amigo, sempre solícito, se dispôs a consertar. Tirou o sapato, subiu na cadeira e resolveu o problema. Só que, enquanto isso, eu percebi que nossos sapatos eram iguais e resolvi tirar uma onda. Tirei os meus, calcei os dele e fiquei quieto.

Ele desceu, calçou meus sapatos e voltou à sua mesa, sem se dar conta da troca. Ocorre que eu calço um número a mais que ele. Depois de certo tempo, meu amigo percebeu que havia algo errado. A todo instante, parava de digitar, olhava para os pés, movimentava-os para os lados e imaginava como eles poderiam ter “encolhido”. Eu sentava bem à sua frente e fingia não perceber seu incômodo.

Isso ocorreu pela manhã. Durante todo o dia, meu antigo parceiro de tênis, ex-militar, sistematicamente repetiu o gesto de olhar pra baixo, mexer os pés, franzir a testa e voltar ao trabalho, cada vez mais intrigado.

Quase no final da tarde, eu estava de pé a uns cinco metros dele, conversando com outros colegas, quando meu amigo parou o que estava fazendo, olhou fixamente para os meus pés, para os dele, para os meus novamente, refletiu longamente e caminhou em minha direção, sem muita convicção.

Ao chegar, meio sem graça, perguntou educadamente:

- Com licença, Sérgio. Por acaso, será que nós não trocamos nossos sapatos por engano?

Morrendo de vontade de rir, controlei-me e respondi bem sério:

- Olha, você não acha meio comprometedora essa pergunta? Em que situação isso poderia ter ocorrido?

Ele coçou a cabeça, pediu desculpas e já ia voltando para o seu lugar quando eu e os demais não nos agüentamos, gargalhamos e entregamos o ouro.

Sempre que nos encontramos lembramos com bom-humor do episódio, um caso típico de inutilidade que entra para a posteridade...   

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