sábado, 15 de abril de 2017

Management Breaks United


Muitos falam que brasileiro tem complexo de vira-lata, termo criado por Nelson Rodrigues que representa nosso eterno sentimento de inferioridade em relação a outros povos.

Os eventos dos últimos meses relacionados à Operação Lava-Jato demonstram que esse complexo tem, de certo modo, sua razão de ser.

Alguns enxergam no povo estadunidense um exemplo a seguir. Obviamente, nossos irmãos do norte têm muitas qualidades, caso contrário não seriam a maior potência mundial durante tanto tempo.

Mas nem tudo é perfeito por lá. Aliás, essa supremacia econômica faz com que o americano médio seja meio embotado, voltado para si e alheio ao que acontece à sua volta.

Há alguns anos, durante um passeio em Buenos Aires num daqueles ônibus que circundam a capital para apresentar seus pontos turísticos, a guia pegou o microfone e pediu que cada passageiro se identificasse e dissesse qual seu país de origem.

Era uma miscelânea: Uruguai, Costa Rica, Ucrânia, Japão, etc.

Ao chegar a minha vez, fui breve:

- Sérgio, Brasil.

O próximo era um americano com um imenso chapéu de caubói:

- Bruce, Texas!

Peguei o microfone e não titubeei:

- Desculpe, eu não tinha entendido a pergunta. Sou o Sérgio, do Ceará!

Obviamente, além dos brasileiros presentes, ninguém entendeu bem minha retificação. Mas a intenção era essa mesmo.

O fato é que o americano adora mesmo o próprio umbigo. Até por isso, apostei com amigos que Trump levaria a eleição presidencial, como levou. As pesquisas apontavam uma vitória de Hillary com relativa folga, mas minha leitura foi de que muitos tinham vergonha de declarar seu voto ao magnata, porém enxergavam nele a melhor alternativa para cuidar dos seus interesses.

O mundo está cada vez mais conectado, e nem chega a ser mais um diferencial – e sim obrigação – estarmos ligados ao que acontece à nossa volta e, principalmente, percebermos a extensão das nossas atitudes.

Escrevo isso por conta do inacreditável episódio ocorrido no avião da United, no qual um passageiro – um médico vietnamita (e não chinês, como divulgado inicialmente) de 69 anos! – foi violentamente retirado da aeronave.

Sempre a United Airlines, mestre em gafes globais. Há oito anos, ao não dar atenção à reclamação sobre um violão despachado que estragou, ela alavancou a carreira do músico canadense Dave Carroll, cujo hit United Breaks Guitars  (a United quebra violões) viralizou.

O episódio do último dia 9 de abril foi ainda mais desastroso. Dois dias após, a companhia perdeu a singela cifra de 1 bilhão de dólares em valor de mercado.

Ainda mais inacreditável foi o CEO, no âmbito interno, criticar a postura do passageiro e elogiar a atitude dos seus funcionários. Na realidade, quem retirou o passageiro de forma tão truculenta não foi nem a United, mas a polícia aeroportuária, que foi chamada a intervir.

Não importa. Para a opinião pública, foi a United.

Num mundo cada vez mais tenso, as empresas não podem se dar ao luxo de permitir episódios dessa natureza.

Só há uma forma de colocar ordem na casa.

Gestão.

E não vamos nem falar aqui de ética ou moral.

Isso nada mais é do que uma obrigação de qualquer gestor. 

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