Acredito que a criação possa ser motivada por diferentes fatores: o talento – claro -, a droga e o sofrimento. Talento eu não tenho; drogas, só aquelas que os psiquiatras, ciclicamente, empurram em mim, na tentativa e erro, numa total falta de convicção. Mas essas não me levam a produzir nada de muito útil. Restaria uma última alternativa: o sofrimento.
Acreditando nisso, há algum tempo comecei a escrever um livro, cujo título provisório era “Memórias de um Idiota do Mercado”. As primeiras páginas surgiram rápido, e foram se multiplicando.
Com o tempo, a autocrítica exacerbada, o perfeccionismo e a constatação de que eu era um mau escritor, produziram um fenômeno curioso. Comecei a “desescrever” – permitam-me o neologismo. No início eram apenas retificações. Na sequência, parágrafos inteiros foram desaparecendo. Uma espécie de Benjamin Button da likteratura. Voltei à estaca zero.
Conheço algumas pessoas que "cometeram" livros. Livros ruins. O pseudoescritor é um chato. Ele tem que apelar para os conhecidos. Dentre esses, há os que não toleram ler – a maioria, aliás. Uns poucos gostam. Mas certamente têm algo melhor para consumir. Poucos conseguiram ler a maioria dos grandes autores. Porque deixar de ler Mann, Joyce, Gabo, Proust, para perder seu tempo com... Sérgio Camelo?!
O mundo, certamente, não vai sentir minha falta.
A propósito, acabo de ler Os Espiões, de L. F. Veríssimo. Horroroso. Estou lendo Misto-Quente, de Bukowski. Autobiográfico (como todo Bukowski), deprê, simples, direto, único. Excepcional.
Continue escrevendo, irmãozão! Você escreve muito bem. Adorei esta crônica.
ResponderExcluirEspero o Pedro em 27 d dez.
Ana