Esses dias lembrei-me do meu saudoso
amigo Tadeu, o cara mais assertivo que conheci. Ele nunca ficava em cima do
muro em assunto nenhum. Conhecesse ou não. Lembrei também dos nossos tempos de
Recife. E da folclórica história do Mário e da água.
Faz muitos anos, mas foi mais ou menos
assim: o Tadeu e o Mário dividiam um minúsculo apartamento, no bairro de Setúbal.
Nos finais de semana, Tadeu ia religiosamente para Maceió, visitar a família. O
Mário, mais raramente, ia a São Paulo, com o mesmo objetivo.
Naquela época era muito freqüente a falta
d’água. Quando a situação piorava, o mau-humor crônico do Mário se manifestava,
e ele saía gritando pelos corredores do imenso condomínio, pra todo mundo
ouvir.
- Quando a merda dessa água voltar, eu
vou deixar a torneira aberta pra esvaziar toda a caixa do condomínio. Isso é
uma pouca vergonha!
Uma bela tarde de domingo, Tadeu
viajando, Mário se preparava para a sua habitual caminhada na av. Beira-mar de Boa
Viagem. Ele abre a torneira e... pronto! Sem água de novo! Mário dá sua
resmungada básica, sai batendo a porta... e esquece de fechar o registro.
Alguns minutos depois, a água chega, e
algumas horas depois o prédio vira um pandemônio. Vários apartamentos são
tomados pelo “rio”, cuja nascente é o apartamento dos nossos dois amigos. A
unidade mais prejudicada é exatamente a do síndico, que ficava bem em frente,
porta com porta.
Lá pelas 10 noite, ao chegar, meio
trôpego, com excesso de chope no juízo, Mário percebe a cagada que fez. E vê que
a coisa não vai acabar bem. Joga umas roupas na bolsa e vaza, procurando um
lugar para passar a noite. A situação foi agravada porque, ao procurar
informações, o síndico ouviu do porteiro do prédio que “... o seu Mário falou
que ia deixar a torneira aberta de propósito...”
Segunda-feira pela manhã, Tadeu chega
de Maceió direto para o Banco. À noite, chegando em casa, é chamado para uma reunião
de condomínio, convocada às pressas. Vai direto pra lá, sem passar pelo
apartamento. Chega atrasado, mas a tempo de ouvir o síndico bradar:
- Tem uma coisa! A próxima vez que
isso acontecer, pode ser o apartamento do presidente da república! Eu ponho a
porta abaixo e desço o cacete! Isso é inadmissível!
Sem saber direito do que se trata,
inteira-se da situação com o vizinho, que lhe conta o ocorrido, mas ainda sem
saber que era sua unidade era o pivô da história. Até o síndico, cada vez mais
exaltado, complementar:
- Porque se esse povo 402 acha que vai
passar impune, está muuuito enganado! Vão se foder!
Caiu a ficha. Tadeu estava sentado na
última fileira de cadeiras. Calmamente, levanta o braço e pede a palavra.
- Desculpe, mas o “povo” do 402 está
aqui. Vamos combinar o seguinte. Da próxima vez que faltar água, eu mesmo vou
deixar a torneira aberta.
E cada vez mais calmo, mais pausado.
- Mas fiquem tranqüilos. Não vai
precisar ninguém derrubar minha porta, pois ela vai estar aberta.
E mudando radicalmente o tom:
- AGORA EU QUERO VER QUEM É MAAACHO
PRA ENTRAR NA MINHA CASA! VAI SER RECEBIDO À BALA! E SE ALGUÉM QUISER SE
ADIANTAR, PODE SE APRESENTAR AGORA, PRA GENTE JÁ RESOLVER ISSO!
Tadeu era gordo e baixinho, mas nessas
horas virava um gigante.
- Não, seu Tadeu, o que é isso... Aqui
todo mundo é civilizado, vamos resolver tudo na paz...
Completamente alterado, Tadeu já
estava de pé.
- AGORA É NA PAZ, É CIVILIZADO! ANTES
IAM DERRUBAR, QUEBRAR TUDO! SÓ QUE VOCÊS MEXERAM COM O CARA ERRADO!!
Segundo relatos, até tiro pra cima o
Tadeu teria dado. Mas isso é conversa. Ele resolveu o assunto só na verve
oratória. Todos foram dispersando, a reunião foi rapidamente encerrada e nunca
mais se falou do assunto. “Seu” Tadeu passou a ser temido, tratado com todo o
cuidado e até admirado por alguns desafetos do síndico. Já o Mário nunca mais
deu as caras por ali.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirAdorei, Serginho! Igor e Bruno também!
Ana
Fortaleza, 7/12/2011