quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Caxambu... e o Paulão

Quando meu amigo Alencar soube que eu estava passando alguns dias no circuito das águas - sul de Minas – foi logo me sacaneando:

- vocês devem ser disparadamente as pessoas mais jovens daí!

Pra não perder o embalo, completei:

- com certeza, seguidos de perto pelo Niemeyer (103 anos de idade, e cheio de planos para o futuro. Esse é o Jaspion!)

Mas ali tudo é show: a rede hoteleira, a hospitalidade, boa comida... e a água, claro. De qualquer forma, essa coisa de destino da velharada é um péssimo marketing para a região, e meio que espanta o turismo.

Das cidades do circuito, São Lourenço é a “metrópole” e Cambuquira a mais decadente. Preferimos Caxambu, um meio termo. No delicioso expresso que tomávamos religiosamente todo fim de tarde no Café Avenida, na esquina mais movimentada da cidade – apenas uma força de expressão, obviamente – fomos conhecendo um pouco o dia-a-dia do caxambuense. Foi surpresa constatar que o estresse já chegou por lá. De uma forma bem particular, é verdade. Mas que chegou, chegou. O galo do Lázaro foi recolhido ao canil da prefeitura, pois seu cacarejar de madrugada estava incomodando dona Marieta, uma velhinha que mora nas proximidades do Parque das Águas.

Mas a figuraça da cidade, o Indiana Jones do pedaço, é, sem dúvida, o Paulão, garçom de um dos hotéis da cidade, e dono de um boteco com apenas duas mesas, que serve os melhores tira-gostos da região.

Já no primeiro contato, ao tomarmos o café da manhã no hotel, Paulão foi logo nos municiando com material para escrevermos algo sobre ele.

Primeiramente, chegou de cara emburrada, colocou dois potinhos de manteiga na mesa, depois mais dois, e em seguida outros dois.

Eu estava achando aquilo divertido, mas como já começava a faltar espaço na mesa, resolvi puxar assunto, para ver se ele esquecia aquele leva-e-traz de manteiga, e seu crachá me chamou atenção. Lá estava escrito, em letras miúdas: Francisco R. Vieira. E em letras maiores: Paulão, Garçom. Perguntei:

- Seu nome é Paulo ou é Francisco?

Quando ele respondeu, achei que estava me sacaneando, mas era a pura verdade:

- Minha mãe quis me resgistrar como Francisco Paulo, mas o tabelião falou que ficava muito grande, e iria colocar só Francisco. Aí ela disse que tudo bem, mas que mesmo assim iria me chamar de Paulo.

Ao ouvir essa história inacreditável, comentei com ironia que esse tabelião tinha mesmo foco no cliente. Um casal paulista, que tomava café na mesa ao lado, riu da minha observação, mas o Paulão não achou a menor graça, e continuou com a mesma cara de puto do início.

Muitos dias e muitas histórias depois ele foi se soltando. Tenho até a impressão de que no dia em que fomos embora ele chegou a sorrir, mas posso ter me enganado.

Sempre que pedíamos alguma dica sobre qual o melhor lugar para comprar doce, café, ou uma coisa qualquer, Paulão invariavelmente orientava: Vá em tal lugar e diga que foi o Paulão que indicou. Quando isso acontecia, no dia seguinte eu sempre dizia pra ele:

- Pô, Paulão! Eu perguntei quanto era o café, e a moça falou dez reais. Quando eu disse que você tinha recomendado, ela aumentava: - É vinte! Das duas uma: ou você ganha comissão, ou ela esse povo tá chateado com você!

E invariavelmente o Paulão fechava ainda mais a cara.

Mas se quiser estressar mesmo o Paulão, pergunte a ele sobre o patrão, gerente do hotel. Aí o homem vira uma fera.

Bom, pra finalizar, se você estiver entre Minas, Rio e São Paulo, vale uma esticada em Caxambu. E uma parada obrigatória, claro, no bar do Paulão, no qual trabalha toda a família. Além das mil e uma histórias, as caipiroscas de frutas vermelhas, lima e mexerica com maracujá que ele prepara são imbatíveis. Pra acompanhar, os salgadinhos preparados na hora pela dona Fátima. O bolinho de bacalhau, crocante pro fora e cremoso por dentro, é simplesmente imperdível.

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